Ontem o In Guimarães deu a conhecer um pouco de João de Guimarães e do seu projeto John and the Charmers. Tal como prometido segue agora a segunda parte desta entrevista.
2ª PARTE DA ENTREVISTA
In Guimarães: Onde
é que o disco foi gravado?
João de Guimarães:
Foi
gravado no estúdio SPL cá em Guimarães pelo Pedro Mouga. E foi masterizado pelo
Mário Barreiros.
In Guimarães: Como
foi o trabalho em estúdio?
João de Guimarães:
Foi
espetacular. Já é uma coisa que eu também faço e gosto muito. E o Pedro Mouga,
nós já tínhamos feito muitos trabalhos juntos, abraçou logo o projeto. Uma vez
fomos ver um concerto à noite cá em Guimarães e eu mostrei-lhe uma experiência
que tinha feito e ele ouviu e ficou logo muito entusiasmado com aquilo e disse
“temos de marcar isto”. Ele é uma pessoa de garra e abraçou isto de início e
depois passamos umas centenas de horas no estúdio e é uma sensação espetacular.
Chegar ao último dia e acharmos que está feito e pronto para mandar para o
Mário Barreiros para masterizar é uma sensação espetacular. Foram muitas horas,
aquilo vai-se construindo, é um passinho de cada vez, é uma sensação incrível.
O estúdio é um sítio muito inspirador.
In Guimarães: O
Grupo já gravou o videoclip da música She Loves Me, She Loves Me Not. Como é
que foi essa experiência?
João de Guimarães:
Primeiro
foi uma luta decidir qual é que era o single. Ainda agora quando o disco saiu
houve alguém que me disse “epah acho que deveria ser esta”. E a verdade é que
nem era uma das cinco que a gente tinha. Tínhamos umas 6 ou 7 para single e
entre nós já foi difícil escolher… o que é um sinal que havia várias que podiam
ser um cartão-de-visita da banda mas decidimos pela She Loves Me, She Loves Me
Not. Foi divertido fazer o vídeo. Foram dois dias de prazer. Neste projeto só
participa quem gostar e quem for verdadeiramente feliz. É a primeira condição
quando eu falo com alguém: gostas, estás espetacularmente apaixonado por isto?
Então podes vir.
In Guimarães: No
passado dia 28 foi o concerto de estreia do álbum, no Centro Cultural Vila
Flor. Como correu?
João de Guimarães:
Foi
espetacular. Foi uma noite de casa cheia. Os bilhetes esgotaram para aí umas
12/ 13 horas antes. Eu nem sabia porque desde terça-feira até sábado ia
passando de vez em quando na internet ao fim do dia ou de manhã e então
disseram-me que na sexta só havia uns 30 bilhetes disponíveis e que sábado de
manhã esgotou mesmo. E é espetacular, não só esgotar, mas o público ter gostado
e transmitido energia para o palco, que é super importante. Mais vale ter duas
pessoas com calor do que um estádio cheio de pessoas que não querem saber
daquilo não é? Não é por estar cheio que teria de ser bom, mas foi realmente
bom. Depois de tantos meses a sonhar com aquilo, a acordar de noite com pormenores
que me tinha esquecido de tratar e fazer mais um apontamento daqueles de bloco
de mesinha de cabeceira foi realmente incrível juntar uma equipa brutal,
fantástica, incansável e estarmos ali uma hora/ uma hora e quinte a tocar em
palco. Tivemos 30 ou 40 horas de montagem, de programação, de textos, fora as
outras 50 ou 100 horas que já vinham de trás desde reuniões, fazer cenário,
construir seja lá o que for. Por isso, com uma equipa assim é realmente
incrível trabalhar. O concerto foi muito especial porque foi o culminar de todo
esse trabalho e ter casa cheia foi muito bom.
In Guimarães: Quantas
pessoas trabalharam nessa noite para que tudo corresse bem?
João de Guimarães: Entre a nossa
equipa, que costumo chamar Charmer Team e o Vila Flor eramos para aí uns 25.
Estávamos todos afinadíssimos, cada um com a sua parte, no seu instrumento. É
uma produção de primeiro concerto ambiciosa mas era isso que nós queríamos.
Este projeto é novo e este foi o primeiro concerto mas não foi o primeiro
concerto para nenhum de nós. Obviamente já fizemos 300/ 400 concertos cada um,
sejam os técnicos, os performers, ou nós músicos não estamos propriamente a
começar. Ao querer fazer isto sabíamos o trabalho que iria dar, mas queríamos
fazer porque a música e o projeto nos puxava para aí. Não foi nada forçado, não
vamos por mais coisas só porque sim, só para preencher o palco e daí ser muita
gente mas fazer sentido.
In Guimarães: O
João tem alguma música “preferida” no álbum?
João de Guimarães:
É
difícil. Tal como eu não tenho uma banda preferida, ou cantor ou cor preferida,
não tenho mesmo. Eu não consigo olhar para as minhas músicas e dizer que tenho
uma preferida, porque cada uma … se me perguntares para cada momento, é
possível que te diga. Para o Pôr-do-sol gosto mais de ouvir esta, quando acordo
gosto mais de ouvir esta. Aí é possível. Não é fácil dizer das dez que há uma.
In Guimarães: Qual
é o feedback que tem recebido relativamente ao projeto?
João de Guimarães:
As
pessoas têm gostado muito mas acima de tudo mais do que gostar é a sinceridade
que eu vejo da parte das pessoas ao dizerem que gostam ou que não gostam. Cada
um é livre de gostar ou de não gostar. Mas para já tenho recebido imensos
e-mails, mensagens e pessoalmente quando encontro as pessoas. A festa de
lançamento do CD foi a 28 de Fevereiro e agora a estreia no 28 de Março, existe
sinceridade no olhar das pessoas. Quer da parte de músicos ou de quem não está
dentro da execução musical. As pessoas ou gostam ou não gostam, não estou aqui
para agradar ninguém, mas sim para ser feliz. Ser feliz com as pessoas com quem
trabalho, seja neste projeto ou nos outros todos e é isso que eu quero ser. Não
me interessa se ao vender o CD vou vender um milhão. Se vender um milhão melhor
que assim posso receber algum retorno do dinheiro que investi e obviamente a
gente gosta e tem orgulho do que faz caso contrário não o punha cá fora. Tenho
toda a certeza do mundo que foi o melhor que eu consegui fazer. Se gostam ou não
já não depende de mim. Mas o que vejo é sinceridade no olhar das pessoas, não
estão a dizer que gostaram só para me agradar porque eu não lhes vou dar
emprego, não sou o presidente de nada, nem vou fazer festinhas na cabeça de
ninguém.
In Guimarães: Se pudesse
descrever esta viagem musical em algumas palavras, quais utilizaria?
João de Guimarães:
Acho
que parte sempre de sonhos. Sonho é uma palavra que acompanha um bocado este projeto.
É uma coisa muito requintada no sentido de ser pensada. Cada somzinho que tem,
cada movimento que teve no palco a nível performativo ou adereço é requintado e
ao mesmo tempo muito verdadeiro. Não é para embelezar só porque sim. Mas é
muito sonhador, é uma coisa muito atmosférica no sentido da gente viver com
tudo o que está à nossa volta e sempre que nos juntamos para escrever, debater
ideias e neste processo até chegar ao concerto havia assim um… levantávamo-nos,
experimentávamos roupas, ouvíamos músicas, desenhávamos, rasgávamos … sei lá é
assim um laboratório multidisciplinar que nos levou a chegar até aqui. É uma
coisa muito sonhadora, mas com muita dedicação, com muito bom gosto, por muito
que isso seja subjetivo. Bom gosto na nossa perspectiva de vamos fazer isto com
gosto. Não é bom gosto de que é melhor do que os outros. Fazemos sempre de uma
forma muito transparente e muito verdadeira mas muito requintada. No sentido de
às vezes não pôr só para encher, as coisas têm que ter um sentido. Porque é que
é aquela cor que está lá, porque é que o objeto é aquele. Então, é um processo
criativo de sonhar e imaginar que nos leva até aqui. Por isso, sonhador … acho
que é acolhedor também. Muita gente diz que gosta de ouvir o disco a ir até ao
mar. É uma boa companhia. As músicas acabam por ser acolhedoras, assim como um
abraço.
In Guimarães: Como
aconteceu a escolha do nome da banda e do álbum?
João de Guimarães:
John
and the Charmers nasce de um ensaio de outro projeto que eu tenho com o Duarte,
o guitarrista, que se chama Fragmentos. Nós saímos de um ensaio de Fragmentos e
fomos almoçar e eu perguntei-lhe: então como estás com o teu calendário para a
gente gravar o disco mais charmoso do ano? Assim na brincadeira e ele disse:
olha porque não John and the Charmers? E aquele nome acabou por ficar ali na
cabeça. Porque até ali não tínhamos pensado assim num nome ainda e então acabou
por ficar atrás da orelha e acabou por ser esse. Demorou tempo a surgir, nem
tínhamos pensado nisso mas depois quando perguntei a cada um o que achavam
deste nome acabou por ficar. O nome do disco Velvet Blue… Blue é aquela
expressão i feel blue de estarmos tristes mas este não é um blue de triste é um
blue que nos aconchega, que nos faz pensar um bocadinho também porque isto da
vida ser fácil, de precisarmos de festarola, de bailarico … eu não acho. Acho
que é preciso chorar, preciso pensar e é preciso tudo. Sou uma pessoa muito
festiva mas não acho que a gente deve ter uma visão fácil da realidade. Ou
seja, não acho que se deve forçar, que devemos estar sempre com um sorriso. Eu
sou muito feliz, para já tenho essa sorte mas acho que é preciso pensar, ler
coisas que se calhar não apetecia naquele momento mas “acho que me vai fazer
bem ler isto, passar por esta experiência” e daí o Velvet Blue ser uma coisa
que nos acolhe, um Blue que nos abraça, mas que é intenso. Não é um Blue triste
mas que nos faz pensar um bocadinho, que nos faz sorrir. O objetivo não é as
pessoas ficarem tristes com isto mas também não um alegre falso, um alegre fast
food, fast music, uma coisa de comer e deitar fora.
In Guimarães: Em
que outros projetos o João está envolvido no momento?
João de Guimarães:
A
Outra Voz. É um projeto que pede muito de nós, é muito intenso e com mais de
uma centena de pessoas. Humanamente é um projeto incrível. É como se de repente
tivéssemos 100 primos, ou 100 tios ou avós novos, que fazem parte da nossa
vida. Já não conseguimos viver uns sem os outros. É um projeto incrível que
está sempre aqui, não é daquelas coisas que a gente desliga ao fim do dia ou a
meio da tarde, não. Está sempre aqui a viajar na cabeça. E depois tenho outros projetos
que vou fazendo ou como músico ou como técnico ou como produtor. E outros que
vão surgindo como peças de teatro ou peças de dança ou instalações artísticas,
instalações sonoras. Coisas que vão surgindo, vou salpicando porque mais uma
vez só me sinto completo assim. Dar aulas, ter aulas. Não tenho duas semanas
iguais, nunca tive. Por um lado é cansativo, não sabermos qual é o nosso
horário, mas é espetacular porque temos muita gente com quem trabalhámos e eu
posso chegar aos 50 anos e estar cansado disto e querer sentar e ter um
horário, mas pelo menos para já gosto de estar assim.
In Guimarães: E
novos projetos? Algum em vista?
João de Guimarães:
Este.
O meu projeto é este. (ri) Estou a fazer um CD de música infantil também. E
perguntavas tu agora o que é música infantil? Não sei. Na verdade é o que a
gente lhes der para ouvir, eles ouvem. Nós é que achamos que tem que ser coisas
muito simples e com somzinhos … mas sim, diria que é um CD de música mais
pensado para crianças. Mas não tive tempo ainda de terminar porque com o John
and the Charmers não tive tempo para mais nada nem quis ter. Quis dedicar
grande parte de mim neste projeto. Mas tenho esse mesmo à espera, tenho as
músicas praticamente terminadas e vamos ver o que vai sair dali.
In Guimarães: O
que significa a música para o João?
João de Guimarães:
É
aquela questão de existir uma barreira no que é a música e onde deixa de ser.
Em muitas culturas, mais aqui para os nossos lados, aqui na Europa, é que a
palavra música e dança são diferentes. Porque quando nos mexemos fazemos som,
se tivermos roupas por exemplo aquelas danças que têm medalhas fazem som, é
música. E ao mesmo tempo que tocamos também dançamos, uns mais do que outros.
Por isso, o que é a música era logo a primeira pergunta e ninguém sabe o que é.
O que significa a música para mim é isso mesmo. A forma como eu vivo, como eu
respiro… é a minha vida, o que eu gosto de fazer, aquilo que eu faço melhor,
seja bom ou não é o que eu sei fazer melhor. Já faz parte de mim desde tão cedo
que eu já não imagino não ter o piano em casa para tocar, não ter não sei
quantas guitarras diferentes, afinações diferentes, brinquedinhos que fazem som
e pegar em facas e fazer percussões… sei lá, estou habituado lá em casa a
estragar as cadeiras desde pequenino porque eu tocava com facas. Por isso, fez
sempre parte de mim. Claro que depois tem várias vertentes, a vertente do
ensino, de ensinar e aprender música. Como já faz parte desde tão cedo, acaba
por fazer parte de mim, por ser eu também. Nem sequer pensei como seria não ter
música, é o meu dia-a-dia, a minha forma de estar e de me exprimir.
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A jornalista do In Guimarães, Ana Campos com João de Guimarães
Saiba mais sobre este novo grupo vimaranense em http://www.johnandthecharmers.com/
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