segunda-feira, 27 de abril de 2015

Entrevista à Dona Augusta, proprietária do restaurante Adega dos Caquinhos!

A famosa língua da Dona Augusta já é conhecida na cidade Berço. No artigo publicado no sábado passado pelo In Guimarães, optámos por criar uma espécie de legendas, no final do artigo, para que aqueles que não gostam do conhecido calão português não sejam obrigados a ler. Na entrevista que apresentamos de seguida, acontece o mesmo. Segue então, a entrevista com a proprietária e cozinheira da Adega dos Caquinhos, Dona Augusta.

Fotografia da Dona Augusta, proprietária do restaurante Adega dos Caquinhos 


In Guimarães: Estou a falar com a famosa Dona Augusta. O In Guimarães leu na internet artigos que sublinham a sua língua afiada. Normalmente fala assim com os seus clientes?

Dona Augusta: Sim. Às vezes até tenho muitos clientes conhecidos, e há dias em que não me apetece falar, e eles perguntam “tu hoje estás doente?” e eu digo-lhes ide para a pqvp* que não estou para vos aturar. Às vezes há aqueles clientes que já vêm avisados, “olha que ela fala mal”, e ficam dececionadas porque chegam aqui e eu não falo para ninguém porque estou entretida com a cozinha e as pessoas vão embora tristes. Na capital europeia estiveram aqui uns casais de idade e calhou de eu ir à mesa deles e ela diz-me assim “sabe, eu vou muito triste. Ali fora disseram-me que você era muita malcriada e não a ouvi a falar nada”. E eu disse-lhe assim “Olha, diz-lhes para irem para a pqvp*.” E ela disse que assim já ia mais satisfeita. Há muitos clientes que vêm aqui porque eu falo para eles e eles dizem que parece que estão em casa com a família.

In Guimarães: Há quanto tempo existe a Adega dos Caquinhos?

Dona Augusta: Existe há quase 60 anos.

In Guimarães: Quem é o proprietário?

Dona Augusta: Sou eu.

In Guimarães: E quem foram os antigos proprietários do espaço?

Dona Augusta: Esta casa já estava nas mãos de outras pessoas. Depois fecharam e a minha mãe abriu. Desde que a minha mãe abriu, já estamos aqui há 52/ 53 anos. Isto era da minha mãe, depois ela passou para o nome do meu falecido homem e agora é meu. Em meu nome vai fazer 9 anos. Antes estava no nome do meu falecido homem, mas eu sempre trabalhei aqui. Aqui é a minha casa.

In Guimarães: Qual é a especialidade da casa?

Dona Augusta: Tem arroz de frango, rojões, bucho recheado, vitela assada, lombo assado, tripa…

In Guimarães: Como é que se adaptou o lugar às mudanças do tempo?

Dona Augusta: Foi quase sempre o mesmo ritmo. Antes a minha mãe estava aqui, agora eu estou. Antes era a minha mãe que cozinhava e hoje sou eu que tenho que cozinhar. Os clientes adaptaram-se bem, havia coisas que a minha mãe fazia que eram melhores do que eu a fazer porque as coisas antigamente eram melhor do que agora. As comidas agora não são como eram antigamente. É totalmente diferente, eles dizem que é mas não é nada. Agora é tudo à base de adubos, tudo de estufas. Antigamente havia uma coisa que era só naquele sítio que tinha, agora tem em todo o lado. Coisas que agora há todo o ano, não era assim antigamente.

In Guimarães: Mas mesmo assim, dão importância se os produtos alimentares são caseiros, portugueses…

Dona Augusta: Sim, dá-mos.

In Guimarães: Na sua opinião, o que diferencia a Adega dos Caquinhos dos outros estabelecimentos?

Dona Augusta: Aqui é totalmente diferente. Nós temos aqui casas mais finas, e eu sei que há casas mais finas. A minha não é uma casa fina mas é limpa. Eu sei que há casas com mais requinte, mas às vezes as pessoas pensam que só porque têm mais requinte têm coisas melhores que nós e não é. Há pessoas que gostam de mais vaidade, vamos ali porque tem mais luxo e às vezes não é. Há casas com mais luxo que a comida …

In Guimarães: Adega dos Caquinhos, porquê este nome?

Dona Augusta: Porque tem muitos caquinhos. Já se chamava assim quando viemos. Antigamente esta sala também tinha tudo à volta com caquinhos, mas a minha mãe na altura deitou a baixo e como tinha a pedra colocou a pedra.

In Guimarães: Como é que se encontra o negócio nos tempos de hoje? Mantém-se igual?

Dona Augusta: Menos. Há muitas casas. De tudo, não é só a nível de restaurantes. Uma coisa que não havia de haver porque ou bem que há para uns ou para outros.

In Guimarães: Durante o seu percurso na Adega dos Caquinhos, aconteceu alguma situação divertida que a tenha marcado? Sobre a sua língua afiada por exemplo.

Dona Augusta: Há gente que não gosta. Temos que aceitar. Mas quando vejo a cara das pessoas dá para ver. Eu tenho muitos miúdos que me tratam por tu. Os pais tratam por você e eles por tu. Às vezes a minha filha é assim, “oh mãe, confiança”. E eu digo-lhe “deixa lá”. Ele se me virem na rua é “oh Augusta olha isto”, e os pais… e eu digo-lhes: deixai falar. Não ligo. Às vezes há muita canalha que trás novos e estão habituados a ouvir-me falar e querem que eu fale. Às vezes vem alguém que não gosta, e eu sou muito boa mas vejo que aquela pessoa não gosta e corto logo. E depois os outros que estão habituados é assim “oh gustinha que foi?”. E eu digo… acabou, já não há mais conversa. E eles ficam um bocado fdds* mas eu também quando é por mal… sou fdda*.

In Guimarães: Há alguma mensagem que queira deixar aos seus clientes ou futuros clientes

Dona Augusta: Que eles tenham muita saúde e que Deus os ajude. E que a vida lhes corra bem. E que passem cá. 

 *Pqvp : puta que vos pareu
   *Fdds: fodidos
   *Fdda: fodida

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