Jesualdo de Oliveira Cunha |
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– Qual é o seu nome?
R:
Jesualdo de Oliveira Cunha.
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– Há quanto tempo existe a Padaria das Trinas?
R:
130 anos.
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– Quem são os proprietários, atualmente?
R:
Sou eu, o Sr. Joaquim e a dona Eduarda.
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– Qual o seu percurso na Padaria das Trinas? Não iniciou o seu percurso como
proprietário, pois não?
R:
Não. Eu vim para cá com 11 anos, vim trabalhar para a padaria, como padeiro.
Depois estive no balcão, depois na pastelaria, trabalhei também um pouco no
escritório, e cheguei onde cheguei.
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– Há quanto tempo é o proprietário do espaço?
R:
10 anos mais ou menos.
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– E como é que aconteceu essa passagem?
R:
Eu vivi (desde pequenino, nós eramos 10 irmãos, o meu pai era sozinho a
trabalhar) e fui criado aqui como um filho. Eu comia aqui, almoçava, jantava,
dormia, depois estudava. Trabalhava das 3 da manhã até às 7 da tarde e depois
ia estudar para a escola industrial até às 11 horas da noite, ia para a escola
de noite.
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– Se pudesse descrever a sua história e percurso aqui na Padaria das Trinas,
com uma só palavra, qual seria?
R:
Uma grande lição de vida. Aprendi mais aqui do que até a estudar. Esta foi a
minha verdadeira escola. E pronto, isto é a minha vida.
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– Qual é a especialidade da casa?
R:
Nós aqui temos muitas especialidades. Esta é uma casa já com 130 anos, a maior
parte das máquinas que estão aqui, ainda têm à volta de 60 anos. Ainda
trabalhamos como trabalhávamos há 40, 50 anos. As máquinas que estão aqui ainda
são as máquinas de quando eu vim para aqui trabalhar, a nível de padaria,
fornos. Há outras, logicamente, porque a vida não pára e há as novas
tecnologias mas o essencial na produção fazemos tudo à moda antiga, exatamente
tudo. Desde pão, bolos, pão de ló. O pão de ló não é feito com ovos sintéticos
nem enlatados, é feito exatamente como se fazia há 40 anos.
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– O pão continua a ser feito como antigamente.
R:
Exatamente. O pão pouco fermento leva, pouco sal leva, é amassado, tem o seu
tempo de espera para entrar no forno, tem estanca, leva as voltas todas como antigamente,
para isso temos que ter muita mão de obra, temos que ter muitos carrinhos de
pão para trabalhar nesse sistema mas nós não abdicamos dessa maneira de ser que
é aquilo que tem aguentado a empresa.
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– Qual o motivo para esta opção de manter as técnicas artesanais na produção
dos produtos?
R:
Não quero mudar porque isto tem sido a base da empresa. O nosso sucesso,
sucesso entre aspas não é, porque hoje estamos bem, mas não sabemos o amanhã,
mas até à data de hoje não nos temos dado mal com esta maneira de trabalhar.
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– Como é que se adaptou o lugar à mudança dos tempos?
R:
Bem, porque as pessoas cada vez mais procuram tudo o que é singular. Falar dos
milhos transgénicos, dos cereais transgénicos, nós aqui abdicamos disso. Há uma
parte que é fundamental numa empresa, a parte informática, nós aí estamos sempre
atualizados. A outra parte não vou muito nisso. As casas, mesmo a nível de
restauração e tudo, as casas que têm sucesso são aquelas que continuam a manter
os seus postos de trabalho e a trabalhar tudo como se trabalhava antigamente.
Mesmo para o pão, seja pão, seja bolos, seja o que for, manter aquele cheirinho
a pão, não é? Estar a comer um pão e cheirar a pão, comer um croissant e
lembrar dos croissants antigos.
12
– Quantas pessoas trabalham na Padaria das Trinas?
R:
43
13 – Esse número tem descido ou
não?
R:
Não, temos mantido.
14 – Como surgiu o nome Padaria das
Trinas?
R:
O nome surgiu porque havia aqui um recolhimento, isto não era a rua das Trinas
isto era Rua 5 de Outubro, mas havia ali um recolhimento de velhinhas
antigamente, chamava-se recolhimento das Trinas. Depois, a empresa como estava
aqui à beira do recolhimento, as pessoas falavam vamos ali ao recolhimento das
Trinas. Então os antigos donos resolveram por o nome de Padaria das Trinas.
Depois com o sucesso da padaria, dos seus produtos de padaria, pastelaria,
restauração, serviços que a gente fazia de casamentos, instituições que a gente
servia, que sempre fomos ajudando da maneira que pudemos, a rua começou a ter
tanto movimento que passou-se a dar o nome da padaria à rua. A padaria é que
deu o nome à rua das Trinas.
15 – Quais as principais
dificuldades para a Padaria das Trinas nos tempos atuais?
R:
É aguentar a produção atual que temos, aguentar todos os trabalhadores que
temos, que é o fundamental, e procurar servir bem os clientes.
16 – Depois de tantos anos passados
aqui na Padaria das Trinas, há algum produto, de todos os que produzem, que lhe
seja mais especial?
R:
Há. Há um produto que para mim é muito especial. E é especial porquê? Porque é
uma criação minha que deu sucesso a nível nacional. Foi o pão saloio. A criação
do pão saloio nasceu aqui nas Trinas há quase 25/30 anos. É um pão que nós
fazemos com mistura de várias farinhas, amassado à nossa maneira, não vou dizer
como, e cozido também à nossa maneira, que também não vou dizer como. Este pão,
sendo uma criação minha, é um macro da história da empresa.
17 – Há alguma mensagem que queira
deixar aos seus clientes e futuros clientes?
R:
Que todos os clientes das Trinas e sem ser das Trinas, toda a gente aqui de
Guimarães, incluindo todas as instituições, a câmara, etc. que tenham uma boa
Páscoa, e que sejam pessoas felizes e que nunca deixem de vir às Trinas porque
é uma casa de excelência.