sábado, 28 de março de 2015

Padaria das Trinas: A padaria que deu nome à rua!

Fotografia de Diário de Notícias, 16/10/2014: Rua das Trinas 

O cheiro a pão quente e acabado de sair do forno não engana. Tínhamos chegado á famosa Padaria das Trinas. Na rua, homens e mulheres vestidos com uma farda branca “jogam” atarefados e sorridentes, ao mesmo tempo que entram e saem do interior da Padaria das Trinas. Ao lado, uma outra funcionária do espaço, decora a montra com o pão de ló de referência que trás tantas e tantas pessoas à cidade berço, Guimarães.

 Abriu as suas portas há mais de um século, mas não deixa os seus 130 anos enfraquecer as suas estruturas. A Padaria das Trinas é uma padaria/ pastelaria que prima pela continuidade do uso de técnicas artesanais na criação dos seus produtos. A tradição é importante para os proprietários Jesualdo Cunha, Joaquim Ribeiro e dona Eduarda, que fazem questão de conservar a confeção do pão manualmente, cozendo – o em forno de lenha. O pão, a pastelaria, os croissants e o famoso pão de ló, são as especialidades da casa. Todos os produtos, confecionados à moda antiga: “Nós aqui temos muitas especialidades. Esta é uma casa já com 130 anos, a maior parte das máquinas que estão aqui, ainda têm à volta de 60 anos. Ainda trabalhamos como trabalhávamos há 40, 50 anos. As máquinas que estão aqui ainda são as máquinas de quando eu vim para aqui trabalhar, a nível de padaria, fornos. Há outras, logicamente, porque a vida não pára e há as novas tecnologias mas o essencial na produção fazemos tudo à moda antiga, exatamente tudo. Desde pão, bolos, pão de ló. O pão de ló não é feito com ovos sintéticos nem enlatados, é feito exatamente como se fazia há 40 anos.”. Quem o afirma é Jesualdo Cunha, acrescentando que “ O pão pouco fermento leva, pouco sal leva, é amassado, tem o seu tempo de espera para entrar no forno, tem estanca, leva as voltas todas como antigamente. Para isso temos que ter muita mão de obra, temos que ter muitos carrinhos de pão para trabalhar nesse sistema mas nós não abdicamos dessa maneira de ser que é aquilo que tem aguentado a empresa.” Com 43 funcionários e responsável pelo fornecimento de pão a um grande número de instituições, a produção não pára.

Jesualdo Cunha, proprietário da Padaria das Trinas

Jesualdo de Oliveira Cunha, chegou à Padaria das Trinas com apenas 11 anos de idade: “Eu vivi (desde pequenino, nós eramos 10 irmãos, o meu pai era sozinho a trabalhar) e fui criado aqui como um filho. Eu comia aqui, almoçava, jantava, dormia, depois estudava. Trabalhava das 3 da manhã até às 7 da tarde e depois ia estudar para a escola industrial até às 11 horas da noite, ia para a escola de noite.” Trabalhou como padeiro, no balcão, na pastelaria, no escritório e por fim, chegou a proprietário juntamente com Joaquim Ribeiro (também ele antigo funcionário) e Maria Eduarda Mendes Pinto Fernandes, descendente da família fundadora. A padaria das Trinas, segundo Jesualdo Cunha, tem-se adaptado bem à mudança dos tempos “as pessoas cada vez mais procuram tudo o que é singular. Falar dos milhos transgénicos, dos cereais transgénicos, nós aqui abdicamos disso. Há uma parte que é fundamental numa empresa, a parte informática, nós aí estamos sempre atualizados. As casas, mesmo a nível de restauração e tudo, as casas que têm sucesso são aquelas que continuam a manter os seus postos de trabalho e a trabalhar tudo como se trabalhava antigamente. Mesmo para o pão, seja pão, seja bolos, seja o que for, manter aquele cheirinho, não é? Estar a comer um pão e cheirar a pão, comer um croissant e lembrar dos croissants antigos.” 

O pão saloio é uma criação da casa. Nasceu nas Trinas há quase 25/30 anos e é um produto muito especial para Jesualdo porque para além de ter sido uma criação sua, foi um sucesso a nível nacional: “É um pão que nós fazemos com mistura de várias farinhas, amassado à nossa maneira, não vou dizer como, e cozido também à nossa maneira, também não vou dizer como. Este pão, sendo uma criação minha, é um macro da história da empresa.” O nome Trinas foi retirado a um recolhimento de idosas que havia na antiga Rua 5 de Outubro, o recolhimento das Trinas. Como a empresa estava ao lado do recolhimento, os donos resolveram dar o nome de Padaria das Trinas. “Com o sucesso da padaria, dos seus produtos de padaria, pastelaria, restauração, serviços que a gente fazia de casamentos, instituições que a gente servia, que sempre fomos ajudando da maneira que pudemos, a rua começou a ter tanto movimento que passou-se a dar o nome da padaria à rua.” (Jesualdo Cunha) Foi assim que a Rua 5 de Outubro começou a chamar-se Rua das Trinas. 

Já nesta altura sucesso era a palavra-chave desta empresa. Hoje em dia, ninguém se esquece da Padaria que deu o nome à rua das Trinas, assim como quem lá trabalha não se esquece de manter as tradições ao longo de mais de 130 anos de existência.

Fotografia antiga da rua 

Interior da Padaria das Trinas atualmente

Decoração da Padaria das Trinas: Azulejos pintados à mão - imagens do ofício de fazer pão

Júlio Mendes Fernandes, fundador da Padaria das Trinas


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