segunda-feira, 30 de março de 2015

Padaria das Trinas: Entrevista a Jesualdo de Oliveira Cunha

Jesualdo de Oliveira Cunha


1 – Qual é o seu nome?
R: Jesualdo de Oliveira Cunha.

2 – Há quanto tempo existe a Padaria das Trinas?
R: 130 anos.

3 – Quem são os proprietários, atualmente?
R: Sou eu, o Sr. Joaquim e a dona Eduarda.

4 – Qual o seu percurso na Padaria das Trinas? Não iniciou o seu percurso como proprietário, pois não?
R: Não. Eu vim para cá com 11 anos, vim trabalhar para a padaria, como padeiro. Depois estive no balcão, depois na pastelaria, trabalhei também um pouco no escritório, e cheguei onde cheguei.

5 – Há quanto tempo é o proprietário do espaço?
R: 10 anos mais ou menos.

6 – E como é que aconteceu essa passagem?
R: Eu vivi (desde pequenino, nós eramos 10 irmãos, o meu pai era sozinho a trabalhar) e fui criado aqui como um filho. Eu comia aqui, almoçava, jantava, dormia, depois estudava. Trabalhava das 3 da manhã até às 7 da tarde e depois ia estudar para a escola industrial até às 11 horas da noite, ia para a escola de noite.

7 – Se pudesse descrever a sua história e percurso aqui na Padaria das Trinas, com uma só palavra, qual seria?
R: Uma grande lição de vida. Aprendi mais aqui do que até a estudar. Esta foi a minha verdadeira escola. E pronto, isto é a minha vida.

8 – Qual é a especialidade da casa?
R: Nós aqui temos muitas especialidades. Esta é uma casa já com 130 anos, a maior parte das máquinas que estão aqui, ainda têm à volta de 60 anos. Ainda trabalhamos como trabalhávamos há 40, 50 anos. As máquinas que estão aqui ainda são as máquinas de quando eu vim para aqui trabalhar, a nível de padaria, fornos. Há outras, logicamente, porque a vida não pára e há as novas tecnologias mas o essencial na produção fazemos tudo à moda antiga, exatamente tudo. Desde pão, bolos, pão de ló. O pão de ló não é feito com ovos sintéticos nem enlatados, é feito exatamente como se fazia há 40 anos.

9 – O pão continua a ser feito como antigamente.
R: Exatamente. O pão pouco fermento leva, pouco sal leva, é amassado, tem o seu tempo de espera para entrar no forno, tem estanca, leva as voltas todas como antigamente, para isso temos que ter muita mão de obra, temos que ter muitos carrinhos de pão para trabalhar nesse sistema mas nós não abdicamos dessa maneira de ser que é aquilo que tem aguentado a empresa.

10 – Qual o motivo para esta opção de manter as técnicas artesanais na produção dos produtos?
R: Não quero mudar porque isto tem sido a base da empresa. O nosso sucesso, sucesso entre aspas não é, porque hoje estamos bem, mas não sabemos o amanhã, mas até à data de hoje não nos temos dado mal com esta maneira de trabalhar.

11 – Como é que se adaptou o lugar à mudança dos tempos?
R: Bem, porque as pessoas cada vez mais procuram tudo o que é singular. Falar dos milhos transgénicos, dos cereais transgénicos, nós aqui abdicamos disso. Há uma parte que é fundamental numa empresa, a parte informática, nós aí estamos sempre atualizados. A outra parte não vou muito nisso. As casas, mesmo a nível de restauração e tudo, as casas que têm sucesso são aquelas que continuam a manter os seus postos de trabalho e a trabalhar tudo como se trabalhava antigamente. Mesmo para o pão, seja pão, seja bolos, seja o que for, manter aquele cheirinho a pão, não é? Estar a comer um pão e cheirar a pão, comer um croissant e lembrar dos croissants antigos.

12 – Quantas pessoas trabalham na Padaria das Trinas?
R: 43

13 – Esse número tem descido ou não?
R: Não, temos mantido.

14 – Como surgiu o nome Padaria das Trinas?
R: O nome surgiu porque havia aqui um recolhimento, isto não era a rua das Trinas isto era Rua 5 de Outubro, mas havia ali um recolhimento de velhinhas antigamente, chamava-se recolhimento das Trinas. Depois, a empresa como estava aqui à beira do recolhimento, as pessoas falavam vamos ali ao recolhimento das Trinas. Então os antigos donos resolveram por o nome de Padaria das Trinas. Depois com o sucesso da padaria, dos seus produtos de padaria, pastelaria, restauração, serviços que a gente fazia de casamentos, instituições que a gente servia, que sempre fomos ajudando da maneira que pudemos, a rua começou a ter tanto movimento que passou-se a dar o nome da padaria à rua. A padaria é que deu o nome à rua das Trinas.

15 – Quais as principais dificuldades para a Padaria das Trinas nos tempos atuais?
R: É aguentar a produção atual que temos, aguentar todos os trabalhadores que temos, que é o fundamental, e procurar servir bem os clientes.

16 – Depois de tantos anos passados aqui na Padaria das Trinas, há algum produto, de todos os que produzem, que lhe seja mais especial?
R: Há. Há um produto que para mim é muito especial. E é especial porquê? Porque é uma criação minha que deu sucesso a nível nacional. Foi o pão saloio. A criação do pão saloio nasceu aqui nas Trinas há quase 25/30 anos. É um pão que nós fazemos com mistura de várias farinhas, amassado à nossa maneira, não vou dizer como, e cozido também à nossa maneira, que também não vou dizer como. Este pão, sendo uma criação minha, é um macro da história da empresa.

17 – Há alguma mensagem que queira deixar aos seus clientes e futuros clientes?
R: Que todos os clientes das Trinas e sem ser das Trinas, toda a gente aqui de Guimarães, incluindo todas as instituições, a câmara, etc. que tenham uma boa Páscoa, e que sejam pessoas felizes e que nunca deixem de vir às Trinas porque é uma casa de excelência. 

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