segunda-feira, 27 de abril de 2015

Entrevista à Dona Augusta, proprietária do restaurante Adega dos Caquinhos!

A famosa língua da Dona Augusta já é conhecida na cidade Berço. No artigo publicado no sábado passado pelo In Guimarães, optámos por criar uma espécie de legendas, no final do artigo, para que aqueles que não gostam do conhecido calão português não sejam obrigados a ler. Na entrevista que apresentamos de seguida, acontece o mesmo. Segue então, a entrevista com a proprietária e cozinheira da Adega dos Caquinhos, Dona Augusta.

Fotografia da Dona Augusta, proprietária do restaurante Adega dos Caquinhos 


In Guimarães: Estou a falar com a famosa Dona Augusta. O In Guimarães leu na internet artigos que sublinham a sua língua afiada. Normalmente fala assim com os seus clientes?

Dona Augusta: Sim. Às vezes até tenho muitos clientes conhecidos, e há dias em que não me apetece falar, e eles perguntam “tu hoje estás doente?” e eu digo-lhes ide para a pqvp* que não estou para vos aturar. Às vezes há aqueles clientes que já vêm avisados, “olha que ela fala mal”, e ficam dececionadas porque chegam aqui e eu não falo para ninguém porque estou entretida com a cozinha e as pessoas vão embora tristes. Na capital europeia estiveram aqui uns casais de idade e calhou de eu ir à mesa deles e ela diz-me assim “sabe, eu vou muito triste. Ali fora disseram-me que você era muita malcriada e não a ouvi a falar nada”. E eu disse-lhe assim “Olha, diz-lhes para irem para a pqvp*.” E ela disse que assim já ia mais satisfeita. Há muitos clientes que vêm aqui porque eu falo para eles e eles dizem que parece que estão em casa com a família.

In Guimarães: Há quanto tempo existe a Adega dos Caquinhos?

Dona Augusta: Existe há quase 60 anos.

In Guimarães: Quem é o proprietário?

Dona Augusta: Sou eu.

In Guimarães: E quem foram os antigos proprietários do espaço?

Dona Augusta: Esta casa já estava nas mãos de outras pessoas. Depois fecharam e a minha mãe abriu. Desde que a minha mãe abriu, já estamos aqui há 52/ 53 anos. Isto era da minha mãe, depois ela passou para o nome do meu falecido homem e agora é meu. Em meu nome vai fazer 9 anos. Antes estava no nome do meu falecido homem, mas eu sempre trabalhei aqui. Aqui é a minha casa.

In Guimarães: Qual é a especialidade da casa?

Dona Augusta: Tem arroz de frango, rojões, bucho recheado, vitela assada, lombo assado, tripa…

In Guimarães: Como é que se adaptou o lugar às mudanças do tempo?

Dona Augusta: Foi quase sempre o mesmo ritmo. Antes a minha mãe estava aqui, agora eu estou. Antes era a minha mãe que cozinhava e hoje sou eu que tenho que cozinhar. Os clientes adaptaram-se bem, havia coisas que a minha mãe fazia que eram melhores do que eu a fazer porque as coisas antigamente eram melhor do que agora. As comidas agora não são como eram antigamente. É totalmente diferente, eles dizem que é mas não é nada. Agora é tudo à base de adubos, tudo de estufas. Antigamente havia uma coisa que era só naquele sítio que tinha, agora tem em todo o lado. Coisas que agora há todo o ano, não era assim antigamente.

In Guimarães: Mas mesmo assim, dão importância se os produtos alimentares são caseiros, portugueses…

Dona Augusta: Sim, dá-mos.

In Guimarães: Na sua opinião, o que diferencia a Adega dos Caquinhos dos outros estabelecimentos?

Dona Augusta: Aqui é totalmente diferente. Nós temos aqui casas mais finas, e eu sei que há casas mais finas. A minha não é uma casa fina mas é limpa. Eu sei que há casas com mais requinte, mas às vezes as pessoas pensam que só porque têm mais requinte têm coisas melhores que nós e não é. Há pessoas que gostam de mais vaidade, vamos ali porque tem mais luxo e às vezes não é. Há casas com mais luxo que a comida …

In Guimarães: Adega dos Caquinhos, porquê este nome?

Dona Augusta: Porque tem muitos caquinhos. Já se chamava assim quando viemos. Antigamente esta sala também tinha tudo à volta com caquinhos, mas a minha mãe na altura deitou a baixo e como tinha a pedra colocou a pedra.

In Guimarães: Como é que se encontra o negócio nos tempos de hoje? Mantém-se igual?

Dona Augusta: Menos. Há muitas casas. De tudo, não é só a nível de restaurantes. Uma coisa que não havia de haver porque ou bem que há para uns ou para outros.

In Guimarães: Durante o seu percurso na Adega dos Caquinhos, aconteceu alguma situação divertida que a tenha marcado? Sobre a sua língua afiada por exemplo.

Dona Augusta: Há gente que não gosta. Temos que aceitar. Mas quando vejo a cara das pessoas dá para ver. Eu tenho muitos miúdos que me tratam por tu. Os pais tratam por você e eles por tu. Às vezes a minha filha é assim, “oh mãe, confiança”. E eu digo-lhe “deixa lá”. Ele se me virem na rua é “oh Augusta olha isto”, e os pais… e eu digo-lhes: deixai falar. Não ligo. Às vezes há muita canalha que trás novos e estão habituados a ouvir-me falar e querem que eu fale. Às vezes vem alguém que não gosta, e eu sou muito boa mas vejo que aquela pessoa não gosta e corto logo. E depois os outros que estão habituados é assim “oh gustinha que foi?”. E eu digo… acabou, já não há mais conversa. E eles ficam um bocado fdds* mas eu também quando é por mal… sou fdda*.

In Guimarães: Há alguma mensagem que queira deixar aos seus clientes ou futuros clientes

Dona Augusta: Que eles tenham muita saúde e que Deus os ajude. E que a vida lhes corra bem. E que passem cá. 

 *Pqvp : puta que vos pareu
   *Fdds: fodidos
   *Fdda: fodida

sábado, 25 de abril de 2015

Adega dos Caquinhos!


Uma rua mais apertada da cidade Berço dirige as pessoas para a Adega dos Caquinhos. Um restaurante que sorri aos seus visitantes há 60 anos. Entramos, e não encontramos o normal de cada restaurante de hoje em dia, mas sim um lugar acolhedor, que prima pela sua decoração e pela animação garantida com a famosa Dona Augusta, proprietária e cozinheira do espaço.


Entrada da Adega dos Caquinhos 

A Adega dos Caquinhos mora na Rua da Arrochela, perto do Largo do Toural, em Guimarães. Há quem diga que aquele lugar é excelente em fazer as pessoas sentir-se em casa. A sua decoração rústica torna o local mais caseiro do que a maioria dos restaurantes e a língua afiada da Dona Augusta faz com que o lugar perca o rótulo de típico estabelecimento de restauração. Nas suas paredes podemos encontrar pequenos pedaços de Caquinhos como decoração. Estes, deram o nome ao local, desde o seu nascimento, há 60 anos.

Parede da Adega dos Caquinhos

A família da Dona Augusta vive na Adega dos Caquinhos há cerca de 53 anos. O espaço já passou pelas mãos dos pais e do marido da atual proprietária: “Esta casa já estava nas mãos de outras pessoas. Depois fecharam e a minha mãe abriu. Desde que a minha mãe abriu, já estamos aqui há 52/ 53 anos. Isto era da minha mãe, depois ela passou para o nome do meu falecido homem e agora é meu. Em meu nome vai fazer 9 anos. Antes estava no nome do meu falecido homem, mas eu sempre trabalhei aqui. É a minha casa.” (Dona Augusta) E talvez por ser a sua casa, a Dona Augusta vive e fala como se estivesse mesmo em casa. Há pessoas que passam lá só para a ouvir falar. Como a própria afirma “Às vezes até tenho muitos clientes conhecidos, e há dias em que não me apetece falar, e eles perguntam “tu hoje estás doente?” e eu digo-lhes ide para a pqvp* que não estou para vos aturar. Às vezes há aqueles clientes que já vêm avisados, “olha que ela fala mal”, e às vezes ficam dececionadas porque chegam aqui e eu não falo para ninguém porque estou entretida com a cozinha e as pessoas vão embora tristes. Na capital europeia estiveram aqui uns casais de idade e calhou de eu ir à mesa deles e ela diz-me assim “sabe, eu vou muito triste. Ali fora disseram-me que você era muita malcriada e não a ouvi a falar nada.” E eu disse-lhe assim “olha, diz-lhes para irem para a pqvp*.” E ela disse que assim já ia mais satisfeita. Há muitos clientes que vêm aqui porque eu falo para eles e eles dizem que parece que estão em casa com a família.”

Decoração do restaurante

Na Adega dos Caquinhos não existem diárias. A comida típica portuguesa é a especialidade da casa. Arroz de Frango, rojões, bucho recheado, vitela e lombo assado ou umas boas Tripas são os pratos que podemos encontrar no local. A preocupação com os alimentos é algo que existe. Alimentos portugueses e caseirinhos são alvo de preferência da cozinheira da casa. Esta, refere que as coisas antigamente eram melhores do que hoje em dia “As comidas agora não são como eram antigamente. É totalmente diferente, eles dizem que é mas não é nada. Agora é tudo à base de adubos, tudo de estufas. Antigamente havia uma coisa que era só naquele sítio que tinha, agora tem em todo o lado. Coisas que agora há todo o ano, não era assim antigamente.”

Quadro decorativo da Adega dos Caquinhos. Imagem da rua.

Adega dos Caquinhos, um lugar a visitar na bela cidade de Guimarães. Uma casa diferente, uma casa portuguesa, com certeza!

Como cantava a Amália Rodrigues:

Numa casa portuguesa, fica bem
Pão e vinho sobre a mesa
E se à porta humildemente
Bate alguém
Senta-se à mesa com a gente
Fica bem esta franqueza, fica bem
Que o povo nunca desmente.”


*A famosa língua da Dona Augusta define-se pela utilização do português calão.
Exemplo utilizado no artigo: Pqvp - puta que vos pareu


 Ana Campos


terça-feira, 21 de abril de 2015

Perdida em Guimarães!

Perdida em Guimarães é a nova rubrica do In Guimarães. Baseia-se numa apresentação de vários locais históricos da cidade Berço, pela visão de uma jovem denominada Maria (nome fictício). A Maria não é de Guimarães e não conhece a cidade. Assim, a cada rubrica que irá escrever, vai apresentar um pouco da história dos lugares visitados e dizer o que achou de cada espaço por onde passou. Está preparado para esta aventura pelos caminhos da cidade de Guimarães? 

Perdida em Guimarães! Visita 1

O meu nome é Maria. Vim para Guimarães trabalhar este ano e apercebi-me de uma coisa: não conheço nada desta cidade! Tenho a desculpa de não ter nascido cá, não ter morado cá e bem, durante toda a minha vida, terem sido raras as vezes que tive oportunidade de fazer uma ou outra visitinha. Contudo, admito que me sinto um pouco culpada por nunca ter tirado um tempo para visitar a cidade Berço! É que, vou confessar, amei o pouco que vi e estou com a sensação que vou gostar ainda mais do que me falta ver!
Esta vai ser, com certeza, uma viagem inesquecível. Novos lugares, novos conhecimentos, novas pessoas. Por isso, decidi partilhar esta aventura com todos os vimaranenses. Desta forma, podem corrigir se eu estiver a cometer alguma gralha na minha pesquisa e quem sabe, relembrar alguns lugares de Guimarães que já não veem há muito tempo.
Prontos? Eu estou! 
A primeira coisa que fiz foi ligar o meu computador. Eu sei, podia simplesmente entrar no carro e ir à aventura. Mas eu sou daquelas pessoas que gosta de planear. Portanto, fui fazer uma viagem virtual pelos lugares históricos de Guimarães. E escolhi duas zonas diferentes.


Castelo de Guimarães

O primeiro lugar que visitei foi o Castelo de Guimarães. Lugar onde, segundo a história, nasceu o primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques! Situa-se na freguesia de Oliveira do Castelo. Foi classificado como Monumento Nacional em 2007 e eleito informalmente como uma das Sete Maravilhas de Portugal.


Resolvi criar uma pequena calendarização para me situar na história:
  • Diogo Fernandes, cavaleiro de origem castelhana, recebe o domínio de Vimaranes;
  • Uma das suas filhas, Mumadona Dias, acaba por governar desde meados do século X ao século XI os domínios de Portucale. Depois de ficar viúva divide os mesmos com os seus seis filhos;
  • Mumadona Dias constrói um mosteiro na parte baixa da povoação de Vimaranes;
  • Povoação dividida em duas partes: uma no topo do Monte Largo e outra no mosteiro;
  • Na tentativa de defesa do núcleo monacal, desencadeia a construção de um castelo no Topo do Monte Largo;
  • Um século depois, a povoação de Vimaranes encontrava-se entre os domínios doados pelo rei Afonso VI de Leão e Castela a D. Henrique de Borgonha (Condado Portucalense); 
  • O conde D. Henrique e esposa tomam o castelo como sua residência. Construção de Mumadona destruída e construção da Torre de Menagem;
  • O Castelo testemunhou o embate de D. Afonso Henriques e o rei Afonso VII de Leão e Castela, bem como o de D. Afonso Henriques com D. Teresa;
  • Final do século XII e início do século XIII como provável início do amuralhamento da vila;
  • Em meados do século XIII acontece a unificação da vila do Castelo à vila de Santa Maria;
  • Em junho de 1385 a vila foi cercada e D. João I une as duas partes num único concelho: denominado por Guimarães;
  • A partir do século XV, o Castelo perdeu a sua função defensiva;
  • No século XVI era a Cadeia Municipal e no seguinte um palheiro do rei;
  • Em 1836 um membro da Sociedade Patriótica Vimaranense defendeu a demolição do Castelo e o uso da pedra para calcetar as ruas de Guimarães, mas a proposta não foi aceite;
  • Vila foi elevada a cidade em 1853 e o Castelo de Guimarães classificado como Monumento Histórico de 1ª Classe em 1881;
  • Reinauguração em 1940;
  • Atualmente, encontra-se bem conservado e aberto ao público. 
Visitar lugares e conhecer a história deles é completamente diferente de visitar por visitar. É uma sensação tão boa quando chegamos a um local histórico e sabemos que já passaram por ali tantas lições de vida, contos que dariam livros, um número infinito de vivências. A sensação que eu tive quando cheguei ao Castelo de Guimarães foi essa, uma variedade de sentimentos e uma curiosidade imensa para saber quem passou por ali durante tantos séculos e o que os movia para tal.

Provavelmente, há muita gente que diz que não há nada para ver ali a não ser pedras, mas na minha visão da matéria, cada pedra que lá está conta uma história diferente. Gostei do que vi. E fiquei triste por não ter conseguido ver mais. Infelizmente, o Castelo tinha zonas interditas porque está em obras. E como não quero que ninguém acabe por bater com o nariz na porta, aqui ficam os dias em que o Castelo de Guimarães irá estar fechado ao público!

Aviso de encerramento
Andei uns passos e encontrei a Igreja de S. Miguel do Castelo. Esta, serviu de capela real e igreja paroquial. Conta a história que foi aqui que D. Afonso Henriques foi batizado e podemos encontrar a pia batismal dentro do edifício. A capela encontra-se aberta ao público. É uma capela em estilo românico com ascensão ao gótico e sendo de pequenas dimensões, não oferece espaço para muitas pessoas ao mesmo tempo. Contudo, se os visitantes forem organizados não há nenhum atropelamento. 

Igreja de S. Miguel do Castelo
Pia onde foi batizado D. Afonso Henriques

O Castelo de Guimarães, a Igreja de S. Miguel de Castelo e o seu vizinho Paço dos Duques de Bragança foram classificados como Monumentos Nacionais em junho de 1910. Estão rodeados por uma agradável área de espaços verdes que convidam as famílias a uma visita encantadora. Nada como estudar um pouco da história de Portugal ao mesmo tempo que respiramos ar puro.

Antes de ir embora e seguir viagem para a segunda zona de visita escolhida, passei pela Estátua D. Afonso Henriques. Esta estátua é uma obra de Soares dos Reis (estátua) e José António Gaspar (pedestal). A ideia da construção partiu de um grupo de portugueses que moravam no Brasil e simboliza o rei conquistador que lutou na defesa do reino português.

Estátua D. Afonso Henriques
A aproximadamente 7 quilómetros de Guimarães, na estrada nacional que segue para Braga, podemos encontrar a vila Caldas das Taipas. Lá, existe um parque muito acolhedor e o lugar perfeito para um bom lanche ao ar livre. Junto ao rio, podemos encontrar uma ponte pedestre que nos permite alargar o passeio para a outra margem. Gostei muito do lugar. Encontrei pessoas de todas as idades, senhores mais velhos animados a jogar ao petanca, crianças a andar de bicicleta, casais de namorados a passear e mesmo pessoas na sua corrida diária. É um bom lugar para relaxar e não podia ter escolhido um lugar melhor para descansar deste dia de visita a Guimarães.


Parque Caldas das Taipas
Parque Caldas das Taipas

Este dia está! Vou já ao computador escolher os próximos lugares desta linda cidade de Guimarães!

Alguma sugestão? 

Maria 

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Entrevista a Avelino Faria, proprietário da Casa Júpiter!

No passado sábado, o In Guimarães apresentou mais uma loja de comércio tradicional da nossa cidade de Guimarães: a Casa Júpiter. Uma casa especializada na venda de guarda-chuvas e chapéus que conta já com os seus 95 anos de idade. 

Segue agora a entrevista completa ao proprietário do local, Avelino Faria.


In Guimarães - Qual é o seu nome?
Casa Júpiter: Avelino Faria.

In Guimarães – Quantas gerações já passaram por esta casa?
Casa Júpiter: É a terceira.

In Guimarães – Qual é o seu percurso na Casa Júpiter?
Casa Júpiter: O meu percurso é desde o início. Isto vinha dos meus pais, fiz os estudos que eram normais na altura e depois assumi.

In Guimarães – Há quanto tempo é proprietário da Casa Júpiter?
Casa Júpiter: Desde 1980, números redondos.

In Guimarães – Quais os produtos que as pessoas podem encontrar aqui?
Casa Júpiter: Especialmente guarda-chuvas e chapéus. Depois há outros artigos para aquelas épocas sazonais em que é necessário vender qualquer coisa para não estarmos parados mas fundamentalmente os guarda-chuvas e os chapéus.

In Guimarães – O guarda-chuva é o produto mais vendido?
Casa Júpiter: Nós estamos ligados ao fabrico de guarda-chuvas. Agora com o artigo chinês que por aí prolifera houve uma queda acentuada da venda dos guarda-chuvas e entretanto veio a moda dos chapéus e começou a subir a venda dos chapéus numa determinada gama porque na outra relacionada aquelas pessoas ligadas à agricultura só pessoas de muita idade é que usam e cada um que morre é menos um cliente de chapéus. Agora há outros modelos que sendo moda, qualquer um, independentemente da idade usa. Agora dizer qual é o volume de uma coisa e de outra temos que separar pela linha de fabrico.

In Guimarães – Onde são produzidos os guarda-chuvas?
Casa Júpiter: Nós temos fabrico de guarda-chuvas numas determinadas referências do tempo do meu pai e do meu avô e como não queremos o artigo chinês dentro de portas temos marcas ligadas a Espanha.

In Guimarães – Como é que se adaptou o lugar à mudança dos tempos?
Casa Júpiter: Com bastantes dificuldades, mas fomos evoluindo. Tentando ver o que o cliente procura, fomos adaptando as novas realidades, a mudança de Guimarães para Capital Europeia da Cultura, obras e estar aqui neste local, fomos à procura daquilo que o cliente entende que quer.

In Guimarães – Quantas pessoas é que trabalham na Casa Júpiter?
Casa Júpiter: Neste momento três.

In Guimarães – Como se encontra o negócio, atualmente, com a crise financeira pela qual o país passa?
Casa Júpiter: Com esta crise financeira há um decréscimo. Acontece que sem explicação aparente entramos em 2015 e é uma queda impressionante. Quando se fala para aí que há recuperação, que vai haver … nós aqui estamos a sentir… 2014 ainda foi um ano como outro qualquer e o 2015 nem o encontro. Já estivemos a ver o quê e o que não, mas não encontramos explicação. Os meses de Janeiro e Fevereiro foram terríveis, não há qualificação. Não sei se é falta de turistas por causa do chapéu que nós vendemos, se está a acontecer de não haver chuva nestes três meses, qual a influência. Mas para nós, Casa Júpiter, é uma fase terrível neste primeiro trimestre.

In Guimarães – Depois de tantos anos a trabalhar aqui, existe alguma história que o marcou mais?
Casa Júpiter: Bom, claro que há. Por exemplo, um amigo meu gastava bastante de cabeça, números. O número dele era bastante grande. E chegava cá “Oh Faria, tem um chapéu para a minha cabeça?” Ele experimentava, experimentava e nenhum lhe servia. E depois dizia “é uma casa especializada e não tem chapéus par homens…” Passava um tempo e voltava. Até que eu cheguei a uma altura que comecei a não gostar muito da brincadeira e digo assim espera que vou-te pregar a partida. Ele veio mais uma vez e “ então já tens chapéus para homens?” E digo-lhe assim: olha, chapéus não tenho, mas tenho a secção de campismo e eu arranjo-te um tolde.” Ele ficou aborrecido, não gostou muito da piada mas foi remédio santo, ele nunca mais me veio perguntar por tamanho de chapéus. Esta é uma das que eu acho engraçada. Mas há outras.

In Guimarães – Casa Júpiter. Porquê a escolha deste nome?
Casa Júpiter: Foi o meu pai que na altura achou que deveria ter uma marca para os guarda-chuvas para ser personalizado. Porque existiam outras no mercado nacional, par haver uma distinção. E com a produção e vendas às casas comerciais… para haver uma diferença. O nome, como outro qualquer… Pensou nos astros, Júpiter é o Deus dos Deuses na mitologia grega e ele achou curioso e pronto, ficou até aos dias de hoje. Temos essa marca registada em guarda-chuvas.

In Guimarães Na sua opinião, o que é que distingue a Casa Júpiter dos outros estabelecimentos?
Casa Júpiter: Bom, em termos comerciais distinguimo-nos pelos anos que temos no mercado. Somos bastante conhecidos cá na cidade e não só, o nosso produto é de qualidade, não pretendemos vender médio ou baixo, é do médio para cima porque quem nos conhece está habituado a que o artigo seja aquilo que pretende e vem daí a diferença. Não temos uma casa moderna como as do Shopping nem como estas novas que aparecem, é uma casa tradicional e temos a nossa clientela. Mas principalmente pela qualidade se não penso que não estaríamos cá há 95 anos.

In Guimarães Há alguma mensagem que deseje deixar aos seus clientes ou futuros clientes?
Casa Júpiter: Para confiar no produto. Iremos tentar continuar a servi-los bem. Tenham confiança e que a gente esteja cá muitos anos e eles também. Com saúde.  


Ana Campos, jornalista do In Guimarães já experimentou alguns chapéus na Casa Júpiter. Agora é a sua vez :)

~


sábado, 11 de abril de 2015

Casa Júpiter: 95 anos de história!

Situa-se no número 53 da Alameda de São Dâmaso, em Guimarães. Abriu as suas portas há 95 anos. As paredes da Casa Júpiter carregam um número sem fim de histórias e vivências daquele que é um negócio familiar que percorre hoje, a terceira geração da família Faria.



Avelino Faria é o proprietário da Casa Júpiter desde o ano de 1980, aproximadamente. A casa, que iniciou trabalho nas mãos do seu avô há 95 anos, passou também pelas mãos do seu pai. Nesta loja podemos encontrar, especialmente, guarda-chuvas e chapéus, embora existam outros produtos, tal como explica o proprietário: “há outros artigos para aquelas épocas sazonais em que é necessário vender qualquer coisa para não estarmos parados mas fundamentalmente vendemos guarda-chuvas e chapéus.” A Casa Júpiter está ligada, desde sempre, ao fabrico de guarda-chuvas. Valoriza, acima de tudo, a qualidade do artigo e para que tal aconteça “temos fabrico de guarda-chuvas numas determinadas referências do tempo do meu pai e do meu avô e como não queremos o artigo chinês dentro de portas temos marcas ligadas a Espanha.” Afirma Avelino Faria, acrescentando que “Agora com o artigo chinês que por aí prolifera houve uma queda acentuada da venda dos guarda-chuvas e entretanto veio a moda dos chapéus e começou a subir a venda dos chapéus numa determinada gama porque na outra ligada aquelas pessoas ligadas à agricultura só pessoas de muita idade é que usam e cada um que morre é menos um cliente de chapéus. Agora há outros modelos que sendo moda, qualquer um, independentemente da idade usa.” 


Quer esteja Sol e precise de um chapéu, quer esteja chuva e necessite de um guarda-chuva, a Casa Júpiter tem as portas abertas para qualquer pessoa que passe por Guimarães. Uma casa que, segundo o Sr. Faria se distingue “pelos anos que temos no mercado. Somos bastante conhecidos cá na cidade e não só, o nosso produto é de qualidade, não pretendemos vender médio ou baixo, é do médio para cima porque quem nos conhece está habituado a que o artigo seja aquilo que pretende e vem daí a diferença. Não temos uma casa moderna como as do Shopping nem como estas novas que aparecem, é uma casa tradicional e temos a nossa clientela. Mas principalmente pela qualidade se não penso que não estaríamos cá há 95 anos.” O nome Casa Júpiter surgiu aquando a chefia do pai de Avelino Faria. “Foi o meu pai que na altura achou que deveria ter uma marca para os guarda-chuvas para ser personalizado. Porque existiam outras no mercado nacional, para haver uma distinção. Ele pensou nos astros, Júpiter é o Deus dos Deuses na mitologia grega e ele achou curioso e pronto, ficou até aos dias de hoje. Temos essa marca registada em guarda-chuvas.


Avelino Faria viveu, ao longo destas décadas de chefia da Casa Júpiter, muitas histórias que o marcaram pela positiva. Uma delas foi a história de um amigo que queria a todo o custo um chapéu que lhe coubesse direito na cabeça “um amigo meu gastava bastante de cabeça, números. O número dele era bastante grande. E chegava cá “Oh Faria, tem um chapéu para a minha cabeça?” Ele experimentava, experimentava e nenhum lhe servia. E depois dizia “é uma casa especializada e não tem chapéus para homens…” Passava um tempo e voltava. Até que eu cheguei a uma altura que comecei a não gostar muito da brincadeira e digo assim “espera que vou-te pregar a partida”. Ele veio mais uma vez e “ então já tens chapéus para homens?” E digo-lhe assim “olha, chapéus não tenho, mas tenho a secção de campismo e eu arranjo-te um tolde.” Ele ficou aborrecido, não gostou muito da piada mas foi remédio santo, ele nunca mais me veio perguntar por tamanho de chapéus.”



Uma história entre muitas já vividas nesta casa tradicional. Uma história entre outras tantas que ainda irão chegar… Porque afinal, na Casa Júpiter, Chapéus há muitos… e guarda-chuvas também!



sexta-feira, 3 de abril de 2015

John and the Charmers! Entrevista a João de Guimarães!

Ontem o In Guimarães deu a conhecer um pouco de João de Guimarães e do seu projeto John and the Charmers. Tal como prometido segue agora a segunda parte desta entrevista. 

                                                    2ª PARTE DA ENTREVISTA

In Guimarães: Onde é que o disco foi gravado?

João de Guimarães: Foi gravado no estúdio SPL cá em Guimarães pelo Pedro Mouga. E foi masterizado pelo Mário Barreiros.

In Guimarães: Como foi o trabalho em estúdio?

João de Guimarães: Foi espetacular. Já é uma coisa que eu também faço e gosto muito. E o Pedro Mouga, nós já tínhamos feito muitos trabalhos juntos, abraçou logo o projeto. Uma vez fomos ver um concerto à noite cá em Guimarães e eu mostrei-lhe uma experiência que tinha feito e ele ouviu e ficou logo muito entusiasmado com aquilo e disse “temos de marcar isto”. Ele é uma pessoa de garra e abraçou isto de início e depois passamos umas centenas de horas no estúdio e é uma sensação espetacular. Chegar ao último dia e acharmos que está feito e pronto para mandar para o Mário Barreiros para masterizar é uma sensação espetacular. Foram muitas horas, aquilo vai-se construindo, é um passinho de cada vez, é uma sensação incrível. O estúdio é um sítio muito inspirador.

In Guimarães: O Grupo já gravou o videoclip da música She Loves Me, She Loves Me Not. Como é que foi essa experiência?

João de Guimarães: Primeiro foi uma luta decidir qual é que era o single. Ainda agora quando o disco saiu houve alguém que me disse “epah acho que deveria ser esta”. E a verdade é que nem era uma das cinco que a gente tinha. Tínhamos umas 6 ou 7 para single e entre nós já foi difícil escolher… o que é um sinal que havia várias que podiam ser um cartão-de-visita da banda mas decidimos pela She Loves Me, She Loves Me Not. Foi divertido fazer o vídeo. Foram dois dias de prazer. Neste projeto só participa quem gostar e quem for verdadeiramente feliz. É a primeira condição quando eu falo com alguém: gostas, estás espetacularmente apaixonado por isto? Então podes vir.

In Guimarães: No passado dia 28 foi o concerto de estreia do álbum, no Centro Cultural Vila Flor. Como correu?

João de Guimarães: Foi espetacular. Foi uma noite de casa cheia. Os bilhetes esgotaram para aí umas 12/ 13 horas antes. Eu nem sabia porque desde terça-feira até sábado ia passando de vez em quando na internet ao fim do dia ou de manhã e então disseram-me que na sexta só havia uns 30 bilhetes disponíveis e que sábado de manhã esgotou mesmo. E é espetacular, não só esgotar, mas o público ter gostado e transmitido energia para o palco, que é super importante. Mais vale ter duas pessoas com calor do que um estádio cheio de pessoas que não querem saber daquilo não é? Não é por estar cheio que teria de ser bom, mas foi realmente bom. Depois de tantos meses a sonhar com aquilo, a acordar de noite com pormenores que me tinha esquecido de tratar e fazer mais um apontamento daqueles de bloco de mesinha de cabeceira foi realmente incrível juntar uma equipa brutal, fantástica, incansável e estarmos ali uma hora/ uma hora e quinte a tocar em palco. Tivemos 30 ou 40 horas de montagem, de programação, de textos, fora as outras 50 ou 100 horas que já vinham de trás desde reuniões, fazer cenário, construir seja lá o que for. Por isso, com uma equipa assim é realmente incrível trabalhar. O concerto foi muito especial porque foi o culminar de todo esse trabalho e ter casa cheia foi muito bom.

In Guimarães: Quantas pessoas trabalharam nessa noite para que tudo corresse bem?

João de Guimarães: Entre a nossa equipa, que costumo chamar Charmer Team e o Vila Flor eramos para aí uns 25. Estávamos todos afinadíssimos, cada um com a sua parte, no seu instrumento. É uma produção de primeiro concerto ambiciosa mas era isso que nós queríamos. Este projeto é novo e este foi o primeiro concerto mas não foi o primeiro concerto para nenhum de nós. Obviamente já fizemos 300/ 400 concertos cada um, sejam os técnicos, os performers, ou nós músicos não estamos propriamente a começar. Ao querer fazer isto sabíamos o trabalho que iria dar, mas queríamos fazer porque a música e o projeto nos puxava para aí. Não foi nada forçado, não vamos por mais coisas só porque sim, só para preencher o palco e daí ser muita gente mas fazer sentido.

In Guimarães: O João tem alguma música “preferida” no álbum?

João de Guimarães: É difícil. Tal como eu não tenho uma banda preferida, ou cantor ou cor preferida, não tenho mesmo. Eu não consigo olhar para as minhas músicas e dizer que tenho uma preferida, porque cada uma … se me perguntares para cada momento, é possível que te diga. Para o Pôr-do-sol gosto mais de ouvir esta, quando acordo gosto mais de ouvir esta. Aí é possível. Não é fácil dizer das dez que há uma.

In Guimarães: Qual é o feedback que tem recebido relativamente ao projeto?

João de Guimarães: As pessoas têm gostado muito mas acima de tudo mais do que gostar é a sinceridade que eu vejo da parte das pessoas ao dizerem que gostam ou que não gostam. Cada um é livre de gostar ou de não gostar. Mas para já tenho recebido imensos e-mails, mensagens e pessoalmente quando encontro as pessoas. A festa de lançamento do CD foi a 28 de Fevereiro e agora a estreia no 28 de Março, existe sinceridade no olhar das pessoas. Quer da parte de músicos ou de quem não está dentro da execução musical. As pessoas ou gostam ou não gostam, não estou aqui para agradar ninguém, mas sim para ser feliz. Ser feliz com as pessoas com quem trabalho, seja neste projeto ou nos outros todos e é isso que eu quero ser. Não me interessa se ao vender o CD vou vender um milhão. Se vender um milhão melhor que assim posso receber algum retorno do dinheiro que investi e obviamente a gente gosta e tem orgulho do que faz caso contrário não o punha cá fora. Tenho toda a certeza do mundo que foi o melhor que eu consegui fazer. Se gostam ou não já não depende de mim. Mas o que vejo é sinceridade no olhar das pessoas, não estão a dizer que gostaram só para me agradar porque eu não lhes vou dar emprego, não sou o presidente de nada, nem vou fazer festinhas na cabeça de ninguém.

In Guimarães: Se pudesse descrever esta viagem musical em algumas palavras, quais utilizaria?

João de Guimarães: Acho que parte sempre de sonhos. Sonho é uma palavra que acompanha um bocado este projeto. É uma coisa muito requintada no sentido de ser pensada. Cada somzinho que tem, cada movimento que teve no palco a nível performativo ou adereço é requintado e ao mesmo tempo muito verdadeiro. Não é para embelezar só porque sim. Mas é muito sonhador, é uma coisa muito atmosférica no sentido da gente viver com tudo o que está à nossa volta e sempre que nos juntamos para escrever, debater ideias e neste processo até chegar ao concerto havia assim um… levantávamo-nos, experimentávamos roupas, ouvíamos músicas, desenhávamos, rasgávamos … sei lá é assim um laboratório multidisciplinar que nos levou a chegar até aqui. É uma coisa muito sonhadora, mas com muita dedicação, com muito bom gosto, por muito que isso seja subjetivo. Bom gosto na nossa perspectiva de vamos fazer isto com gosto. Não é bom gosto de que é melhor do que os outros. Fazemos sempre de uma forma muito transparente e muito verdadeira mas muito requintada. No sentido de às vezes não pôr só para encher, as coisas têm que ter um sentido. Porque é que é aquela cor que está lá, porque é que o objeto é aquele. Então, é um processo criativo de sonhar e imaginar que nos leva até aqui. Por isso, sonhador … acho que é acolhedor também. Muita gente diz que gosta de ouvir o disco a ir até ao mar. É uma boa companhia. As músicas acabam por ser acolhedoras, assim como um abraço.

In Guimarães: Como aconteceu a escolha do nome da banda e do álbum?

João de Guimarães: John and the Charmers nasce de um ensaio de outro projeto que eu tenho com o Duarte, o guitarrista, que se chama Fragmentos. Nós saímos de um ensaio de Fragmentos e fomos almoçar e eu perguntei-lhe: então como estás com o teu calendário para a gente gravar o disco mais charmoso do ano? Assim na brincadeira e ele disse: olha porque não John and the Charmers? E aquele nome acabou por ficar ali na cabeça. Porque até ali não tínhamos pensado assim num nome ainda e então acabou por ficar atrás da orelha e acabou por ser esse. Demorou tempo a surgir, nem tínhamos pensado nisso mas depois quando perguntei a cada um o que achavam deste nome acabou por ficar. O nome do disco Velvet Blue… Blue é aquela expressão i feel blue de estarmos tristes mas este não é um blue de triste é um blue que nos aconchega, que nos faz pensar um bocadinho também porque isto da vida ser fácil, de precisarmos de festarola, de bailarico … eu não acho. Acho que é preciso chorar, preciso pensar e é preciso tudo. Sou uma pessoa muito festiva mas não acho que a gente deve ter uma visão fácil da realidade. Ou seja, não acho que se deve forçar, que devemos estar sempre com um sorriso. Eu sou muito feliz, para já tenho essa sorte mas acho que é preciso pensar, ler coisas que se calhar não apetecia naquele momento mas “acho que me vai fazer bem ler isto, passar por esta experiência” e daí o Velvet Blue ser uma coisa que nos acolhe, um Blue que nos abraça, mas que é intenso. Não é um Blue triste mas que nos faz pensar um bocadinho, que nos faz sorrir. O objetivo não é as pessoas ficarem tristes com isto mas também não um alegre falso, um alegre fast food, fast music, uma coisa de comer e deitar fora.

In Guimarães: Em que outros projetos o João está envolvido no momento?

João de Guimarães: A Outra Voz. É um projeto que pede muito de nós, é muito intenso e com mais de uma centena de pessoas. Humanamente é um projeto incrível. É como se de repente tivéssemos 100 primos, ou 100 tios ou avós novos, que fazem parte da nossa vida. Já não conseguimos viver uns sem os outros. É um projeto incrível que está sempre aqui, não é daquelas coisas que a gente desliga ao fim do dia ou a meio da tarde, não. Está sempre aqui a viajar na cabeça. E depois tenho outros projetos que vou fazendo ou como músico ou como técnico ou como produtor. E outros que vão surgindo como peças de teatro ou peças de dança ou instalações artísticas, instalações sonoras. Coisas que vão surgindo, vou salpicando porque mais uma vez só me sinto completo assim. Dar aulas, ter aulas. Não tenho duas semanas iguais, nunca tive. Por um lado é cansativo, não sabermos qual é o nosso horário, mas é espetacular porque temos muita gente com quem trabalhámos e eu posso chegar aos 50 anos e estar cansado disto e querer sentar e ter um horário, mas pelo menos para já gosto de estar assim.

In Guimarães: E novos projetos? Algum em vista?

João de Guimarães: Este. O meu projeto é este. (ri) Estou a fazer um CD de música infantil também. E perguntavas tu agora o que é música infantil? Não sei. Na verdade é o que a gente lhes der para ouvir, eles ouvem. Nós é que achamos que tem que ser coisas muito simples e com somzinhos … mas sim, diria que é um CD de música mais pensado para crianças. Mas não tive tempo ainda de terminar porque com o John and the Charmers não tive tempo para mais nada nem quis ter. Quis dedicar grande parte de mim neste projeto. Mas tenho esse mesmo à espera, tenho as músicas praticamente terminadas e vamos ver o que vai sair dali.

In Guimarães: O que significa a música para o João?


João de Guimarães: É aquela questão de existir uma barreira no que é a música e onde deixa de ser. Em muitas culturas, mais aqui para os nossos lados, aqui na Europa, é que a palavra música e dança são diferentes. Porque quando nos mexemos fazemos som, se tivermos roupas por exemplo aquelas danças que têm medalhas fazem som, é música. E ao mesmo tempo que tocamos também dançamos, uns mais do que outros. Por isso, o que é a música era logo a primeira pergunta e ninguém sabe o que é. O que significa a música para mim é isso mesmo. A forma como eu vivo, como eu respiro… é a minha vida, o que eu gosto de fazer, aquilo que eu faço melhor, seja bom ou não é o que eu sei fazer melhor. Já faz parte de mim desde tão cedo que eu já não imagino não ter o piano em casa para tocar, não ter não sei quantas guitarras diferentes, afinações diferentes, brinquedinhos que fazem som e pegar em facas e fazer percussões… sei lá, estou habituado lá em casa a estragar as cadeiras desde pequenino porque eu tocava com facas. Por isso, fez sempre parte de mim. Claro que depois tem várias vertentes, a vertente do ensino, de ensinar e aprender música. Como já faz parte desde tão cedo, acaba por fazer parte de mim, por ser eu também. Nem sequer pensei como seria não ter música, é o meu dia-a-dia, a minha forma de estar e de me exprimir.

A jornalista do In Guimarães, Ana Campos com João de Guimarães



Saiba mais sobre este novo grupo vimaranense em http://www.johnandthecharmers.com/



quinta-feira, 2 de abril de 2015

John and the Charmers! Entrevista a João de Guimarães!

O In Guimarães esteve à conversa com João de Guimarães, mentor do projeto musical John and the Charmers. Já ouviu falar? O grupo gozou da sua estreia em palco no passado sábado, dia 28 de Março e teve direito a casa cheia. O pequeno auditório do Centro Cultural Vila Flor teve lotação esgotada e quem teve acesso ao bilhete vibrou com a oportunidade de assistir a este espetáculo. 

Fotografia de José Caldeira


Esta entrevista está dividida em duas partes. A segunda parte será publicada amanhã, à mesma hora.


1ª PARTE DA ENTREVISTA

In Guimarães: Qual é a formação académica do João?

João de Guimarães: Bem, eu fiz conservatório desde muito cedo. Fui aluno de piano, formação musical e classe conjunto e depois fui passando um bocadinho por cada instrumento ao longo dos anos. É a minha forma de ver a música, não é tocar um instrumento só. Não é ser o super pianista ou super guitarrista, mas é conhecer um bocadinho de cada coisa porque isso ajuda-me a compor e a construir música, sonoplastia e tudo o que tem a ver com som. Por isso, fui passando assim por vários instrumentos ao longo dos anos. Depois fiz a Licenciatura em Produção Musical e o Mestrado em Música Interativa e Design de Som, que ainda não está terminado, falta a Tese. Depois vou fazendo formação no que posso, coisas às vezes de duas ou três tardes, outras vezes versões mais alargadas, sempre que é possível.

In Guimarães: Onde é que tirou a licenciatura e o mestrado?

João de Guimarães: A Licenciatura foi em Castelo Branco na Escola Superior de Artes Aplicadas e o Mestrado é no FEUP (Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto) que tem um Mestrado Multimédia e que desde 2009 ou 2010 tem esta vertente de Música Interativa e Design de Som.

In Guimarães: Qual é a sua ocupação profissional?

João de Guimarães: Eu dou aulas, tenho aulas, faço produção em estúdio, faço som ao vivo, faço música sonoplastia para teatro e dança. É um bocadinho de cada coisa, (ri) eu sou assim, um bocadinho de coisas. Dou aulas em infantários, dou aulas dos 3 aos 300 … se existisse pessoas de 300 anos acho que já tinha alunos também…

In Guimarães: Como é que as crianças lidam com a música?

João de Guimarães: É muito engraçado porque elas surpreendem-me sempre. A cada semana há sempre alguma coisa nova, ou de cada um, às vezes são características da própria criança que é uma pessoa e que tem comportamentos que a gente vai descobrindo que são muito interessantes. Decoram muito facilmente as músicas, ouvem uma vez e na segunda já estão a cantar, de umas semanas para as outras lembram-se das letras e de pequenos gestos que vamos fazendo para ajudar a cantar… É muito engraçado e depois a noção rítmica deles é muito engraçado explorar isso. É muito divertido.

In Guimarães: Com que idade começou o João no mundo da música? Qual é que foi o seu percurso?

João de Guimarães: Eu comecei a aprender piano aos 4 anos no conservatório. E a partir daí fui fazendo aquele tal saltinho entre guitarra, percussão e canto e voltei depois mais tarde ao piano e agora estou a ter aulas de canto e de piano na Escola de Jazz do Convívio. Por isso, fui saltando assim desde os 4 anos até agora, vou saltando sempre que posso entre várias coisas.

In Guimarães: No total, quantos instrumentos o João toca?

João de Guimarães: Toco uma meia dúzia deles, aqueles normais: bateria, baixo, guitarra, piano, voz. Aqueles mais exóticos, vou experimentando. Por exemplo saxofone, sempre que posso vou experimentando outras coisas.

In Guimarães: John and the Charmers, como é que surgiu a ideia?

João de Guimarães: Eu vou sempre compondo, seja para mim, para peças de teatro, para dança, para instalações artísticas, para cinema, porque é um exercício como outro qualquer, ou para as bandas com quem trabalho. Por isso há muitas pastas no computador que vão ficando lá, muitas músicas soltas que não quer dizer que vai sair dali um projeto, mas não deixa de ser um exercício e mais tarde podem-me inspirar para outras coisas. Neste caso surgiu uma música, depois surgiu outra … Quando surgiu a primeira música, no dia 1 de Outubro de 2012, dia Mundial da Música e um ano muito especial para nós, Capital Europeia da Cultura, um ano cheio de energia, de loucura, quase sem dormir… Nessa noite compus essa música e achei piada e que havia ali algo de diferente que não se encaixava em nada do que eu estava a fazer no momento. 2 Anos e meio passados não imaginava que ia estar aqui, com este projeto, mas achei que havia ali qualquer coisa que me despertou curiosidade e registei a música. Escrevi a letra nessa mesma noite, ficou praticamente feita e no dia a seguir em casa acordei e fui para o piano e acabei por estruturar aquilo direitinho e gravei para não me esquecer. Mas não dei demasiada importância aquilo, continuei a minha vida normal com as outras mil coisas que estava a fazer naquele ano e depois passando umas semanas foi surgindo uma ideia e depois outra e achei que aquilo se agrupava. Não tinha um nome para aquilo ainda, nem sabia que ia dar uma coisa deste tamanho, mas fui juntando estas músicas. Quando estava a fazer a quarta música decidi falar com músicos e com um produtor e dizer que se calhar até gravávamos um LP e eles disseram “vamos lá gravar isso, fazemos um LP de 4 músicas”. Mas como cada um de nós fazia mil coisas, fomos marcando relaxadamente. Começamos a gravar já passados muitos meses, 11 meses depois de eu ter composto a 1 música, não havia pressas. Quando fomos para o estúdio já tínhamos 10 músicas, de repente um LP transformou-se num álbum. Depois, ainda quando estávamos a gravar fui compondo mais uma música, que não faz parte do CD mas já ficou e depois tal como as músicas foram surgindo foram surgindo os músicos. Então o projeto nasceu assim muito lentamente, muito respirado e foram surgindo as ideias com as músicas já. Fomos 18 músicos em estúdio, há pessoas que participam numa música só, a bateria toca em 8 músicas. Com mais ou menos presença em cada uma das músicas essas pessoas foram surgindo porque as músicas pediam isso mesmo. E a banda de base do projeto, esses 5 músicos do núcleo foram dizendo “ tem que se perder mais tempo com isto agora” … aquilo começou a fervilhar e pronto, fizemos o disco e convidamos essa gente toda. Depois a ilustração, Web Design, videoclip, gráfica e não conseguimos parar. Depois partimos para o concerto e pronto, estamos aqui agora. Foi surgindo assim, naturalmente, e não conseguimos parar. É uma coisa muito natural, não é forçada. Ou seja, as músicas foram gravadas assim porque era isso que pediam, nem tem mais nem menos do que aquilo que a gente achava. As coisas foram pensadas: esta música já está bem assim, não é preciso mais nada. Não vamos encher. Foi um processo lento no sentido de ouvir as coisas, estivemos 3 meses e meio em estúdio (não todos os dias obviamente, mas do primeiro ao último dia), fomos respirando, ouvindo em casa, não havia pressões de editoras, não havia prazos, era eu que estava a decidir isso porque estava a investir no projeto, por isso, fomos fazendo as coisas assim…

In Guimarães: Foi um crescimento saudável?

João de Guimarães: É, exactamente, foi um crescimento saudável.

In Guimarães: Quantos elementos fazem parte do projeto?

João de Guimarães: Músicos somos 6 de base. Tínhamos mais 2 convidados no sábado passado (28 de Março – espetáculo de estreia), 2 pessoas a fazer performance, 5 técnicos e a versão base é essa. Sendo que de toda essa equipa de pessoas fomos desenvolvendo ao longo dos meses a parte dramatúrgica do projeto e mais precisamente do espetáculo. Como é que íamos criar o espetáculo, passar da música para o placo. Temos três músicas novas que já tocamos no sábado e mais duas feitas que não foram apresentadas ainda. Por isso foi um processo que demorou muitas tardes e muitas noites, muitas noites sem dormir às vezes. É uma coisa que demora tempo, preparar todo um espetáculo, com cenografia, iluminação, desenho de som… o mais pequeno pormenor demora muito tempo. Mas dá um gozo redobrado.

In Guimarães: São 10 as músicas que compõem o álbum Velvet Blue. Foi o João que escreveu todas as músicas. Quanto tempo dedicou às letras?

João de Guimarães: Deste disco a primeira foi em 2012 e há uma que é Picture Of Mine que foi rebuscada de 2007 salvo o erro, que depois foi refeita. Eu já estava com algumas músicas feitas, já ia para aí na quinta ou sexta música e lembrei-me de uma pequena passagem dessa música e peguei nela e acabamos por refazê-la e faz todo o sentido estar ali naquele disco. Foi a única que foi rebuscada e transformada para o John and the Charmers. De resto as outras nove foram feitas desde 1 de Outubro até Agosto de 2013.

In Guimarães: Desde que idade o João escreve músicas?

João de Guimarães: No sábado estive com um amigo que lá foi (ao espetáculo de estreia). Nós tivemos uma banda no tempo de liceu, aliás, era 6 ano talvez, na altura aos 11, 12 anos. Começamos a escrever numa vertente assim mais pop rock e quando o vi no sábado lembrei-me disso. Há uns tempos, para aí há um ano atrás comentamos isso, tentar rebuscar essas coisas que escrevemos, porque é uma fase engraçada, de tentar descobrir como se faz uma canção. Tenho ideia de alguns refrões, algumas coisas que fiz na altura, e por acaso lançamos o desafio entre nós os dois de tentar gravar isso para a gente não esquecer e até encontrar letras escritas desse tempo. Por isso, assim desse formato mais canção foi pelos 11/ 12 anos. Mas não é a minha grande facilidade, escrever uma música logo e está feito. Eu não tenho essa facilidade e essa capacidade de compositor de canções, não escrevo uma música em 5 minutos ou 10. O meu forte não é esse, mas é uma coisa que se vai trabalhando não é? Mas depende muito da inspiração.

In Guimarães: Como é que foi escrever estas 10 letras para o álbum? Em que é que se baseou? Experiências pessoais?

João de Guimarães: Sim. Há um facto curioso que é ao mesmo tempo que escrevi a letra No Time escrevi The Sweetness Of Your Heart. No Time é mais mexida e The Sweetness Of Your Heart é uma com vibração de voz e com uns apontamentos de violoncelo e saxofone que é atmosférico e leve. Portanto, havia assim uma data de coisas na minha vida que me levaram a escrever estas músicas e foi decidido naturalmente. Não tem aquela coisa do gostava de escrever agora sobre isto ou gostava de compor uma música mais assim. Não, às vezes era uma frase, uma melodia, um ritmo, e então a partir dali ia escrevendo um bocadinho. Às vezes saia o refrão, outras vezes uma melodia que não tinha letra ainda e eu gravava ou tocava no piano para não me esquecer. Foi fazendo assim, no meio das outras coisas todas, no meio das aulas… Eu tenho uma música que é o Midnight Blue, que é uma balada, que é a música preferida do disco, eu estava a dar aulas em Felgueiras, numa turma de Ensino Superior, com pessoas já com maturidade e algumas até mais velhas do que eu, e esse ambiente super descontraído levou-me a enquanto eles estavam a trabalhar… ia saindo uma melodia ou outra ou uma frase ou outra. Portanto, o Midnight Blue saiu numa quarta feira à noite em Felgueiras enquanto estava a dar aulas. Surgiam assim nos momentos mais estranhos e menos prováveis. Às vezes, acordava e escrevia logo para não me esquecer, era assim bocadinhos aqui e ali que depois eram trabalhados. Há umas que escrevi rapidamente e outras que demoraram meses. Tenho uma que estou há um ano a escrever e ainda não acabei. Mas também não estou preocupado nem quero forçar aquilo. Para já temos o refrão e está tão bom que é o que eu digo, se calhar tocamos só aquilo e chega (ri). Não há nenhuma forma sagrada, parte de momentos de inspiração. Mas sim, partiu sempre de momentos, de pequenas coisas que me podem ter acontecido naquele dia, não quer dizer que aconteceu textualmente o que tem na letra, mas partiu de experiências que vivi nessa fase da minha vida.

In Guimarães: Porquê em Inglês?

João de Guimarães: Porque em mandarim não ficava bem (ri). Não, eu numa parte mais poética escrevo mais em português, 80/20 por cento das coisas que escrevo em poesia são em português. Não sou poeta, não é a minha profissão, mas gosto de escrever. No entanto, em canções, a nível de músicas, é ao contrário, será 80 por cento em inglês e 20 por cento em português. Quando é prosa ou verso escrevo mais em português e quando é para música escrevo mais em inglês. Não é porque acho que vai vender mais ou menos. Nada neste projeto é pensado nesse sentido porque se não fazíamos uma coisa foleiríssima e numa semana ou duas e não dois anos e meio. E não gastava tanto tempo, dinheiro e energia e reunia uma equipa tão espetacular. Se conseguirmos espalhar pelo mundo melhor, se não conseguirmos não vamos obrigar ninguém a escutar. Por isso o inglês surgiu naturalmente. Nós na minha casa temos o hábito, por brincadeira, de falar inglês e fui sempre ouvindo muita música em inglês, por isso surgiu assim naturalmente. 



Conheça mais desta aventura musical amanhã, com a segunda parte desta entrevista! Aqui fica um cheirinho do que pode ler: "O que significa a música para mim é isso mesmo. A forma como eu vivo, como eu respiro… é a minha vida, o que eu gosto de fazer, aquilo que eu faço melhor, seja bom ou não é o que eu sei fazer melhor. Já faz parte de mim desde tão cedo que eu já não imagino não ter o piano em casa para tocar, não ter não sei quantas guitarras diferentes, afinações diferentes, brinquedinhos que fazem som e pegar em facas e fazer percussões… sei lá, estou habituado lá em casa a estragar as cadeiras desde pequenino porque eu tocava com facas. Por isso, fez sempre parte de mim." João de Guimarães