quinta-feira, 2 de abril de 2015

John and the Charmers! Entrevista a João de Guimarães!

O In Guimarães esteve à conversa com João de Guimarães, mentor do projeto musical John and the Charmers. Já ouviu falar? O grupo gozou da sua estreia em palco no passado sábado, dia 28 de Março e teve direito a casa cheia. O pequeno auditório do Centro Cultural Vila Flor teve lotação esgotada e quem teve acesso ao bilhete vibrou com a oportunidade de assistir a este espetáculo. 

Fotografia de José Caldeira


Esta entrevista está dividida em duas partes. A segunda parte será publicada amanhã, à mesma hora.


1ª PARTE DA ENTREVISTA

In Guimarães: Qual é a formação académica do João?

João de Guimarães: Bem, eu fiz conservatório desde muito cedo. Fui aluno de piano, formação musical e classe conjunto e depois fui passando um bocadinho por cada instrumento ao longo dos anos. É a minha forma de ver a música, não é tocar um instrumento só. Não é ser o super pianista ou super guitarrista, mas é conhecer um bocadinho de cada coisa porque isso ajuda-me a compor e a construir música, sonoplastia e tudo o que tem a ver com som. Por isso, fui passando assim por vários instrumentos ao longo dos anos. Depois fiz a Licenciatura em Produção Musical e o Mestrado em Música Interativa e Design de Som, que ainda não está terminado, falta a Tese. Depois vou fazendo formação no que posso, coisas às vezes de duas ou três tardes, outras vezes versões mais alargadas, sempre que é possível.

In Guimarães: Onde é que tirou a licenciatura e o mestrado?

João de Guimarães: A Licenciatura foi em Castelo Branco na Escola Superior de Artes Aplicadas e o Mestrado é no FEUP (Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto) que tem um Mestrado Multimédia e que desde 2009 ou 2010 tem esta vertente de Música Interativa e Design de Som.

In Guimarães: Qual é a sua ocupação profissional?

João de Guimarães: Eu dou aulas, tenho aulas, faço produção em estúdio, faço som ao vivo, faço música sonoplastia para teatro e dança. É um bocadinho de cada coisa, (ri) eu sou assim, um bocadinho de coisas. Dou aulas em infantários, dou aulas dos 3 aos 300 … se existisse pessoas de 300 anos acho que já tinha alunos também…

In Guimarães: Como é que as crianças lidam com a música?

João de Guimarães: É muito engraçado porque elas surpreendem-me sempre. A cada semana há sempre alguma coisa nova, ou de cada um, às vezes são características da própria criança que é uma pessoa e que tem comportamentos que a gente vai descobrindo que são muito interessantes. Decoram muito facilmente as músicas, ouvem uma vez e na segunda já estão a cantar, de umas semanas para as outras lembram-se das letras e de pequenos gestos que vamos fazendo para ajudar a cantar… É muito engraçado e depois a noção rítmica deles é muito engraçado explorar isso. É muito divertido.

In Guimarães: Com que idade começou o João no mundo da música? Qual é que foi o seu percurso?

João de Guimarães: Eu comecei a aprender piano aos 4 anos no conservatório. E a partir daí fui fazendo aquele tal saltinho entre guitarra, percussão e canto e voltei depois mais tarde ao piano e agora estou a ter aulas de canto e de piano na Escola de Jazz do Convívio. Por isso, fui saltando assim desde os 4 anos até agora, vou saltando sempre que posso entre várias coisas.

In Guimarães: No total, quantos instrumentos o João toca?

João de Guimarães: Toco uma meia dúzia deles, aqueles normais: bateria, baixo, guitarra, piano, voz. Aqueles mais exóticos, vou experimentando. Por exemplo saxofone, sempre que posso vou experimentando outras coisas.

In Guimarães: John and the Charmers, como é que surgiu a ideia?

João de Guimarães: Eu vou sempre compondo, seja para mim, para peças de teatro, para dança, para instalações artísticas, para cinema, porque é um exercício como outro qualquer, ou para as bandas com quem trabalho. Por isso há muitas pastas no computador que vão ficando lá, muitas músicas soltas que não quer dizer que vai sair dali um projeto, mas não deixa de ser um exercício e mais tarde podem-me inspirar para outras coisas. Neste caso surgiu uma música, depois surgiu outra … Quando surgiu a primeira música, no dia 1 de Outubro de 2012, dia Mundial da Música e um ano muito especial para nós, Capital Europeia da Cultura, um ano cheio de energia, de loucura, quase sem dormir… Nessa noite compus essa música e achei piada e que havia ali algo de diferente que não se encaixava em nada do que eu estava a fazer no momento. 2 Anos e meio passados não imaginava que ia estar aqui, com este projeto, mas achei que havia ali qualquer coisa que me despertou curiosidade e registei a música. Escrevi a letra nessa mesma noite, ficou praticamente feita e no dia a seguir em casa acordei e fui para o piano e acabei por estruturar aquilo direitinho e gravei para não me esquecer. Mas não dei demasiada importância aquilo, continuei a minha vida normal com as outras mil coisas que estava a fazer naquele ano e depois passando umas semanas foi surgindo uma ideia e depois outra e achei que aquilo se agrupava. Não tinha um nome para aquilo ainda, nem sabia que ia dar uma coisa deste tamanho, mas fui juntando estas músicas. Quando estava a fazer a quarta música decidi falar com músicos e com um produtor e dizer que se calhar até gravávamos um LP e eles disseram “vamos lá gravar isso, fazemos um LP de 4 músicas”. Mas como cada um de nós fazia mil coisas, fomos marcando relaxadamente. Começamos a gravar já passados muitos meses, 11 meses depois de eu ter composto a 1 música, não havia pressas. Quando fomos para o estúdio já tínhamos 10 músicas, de repente um LP transformou-se num álbum. Depois, ainda quando estávamos a gravar fui compondo mais uma música, que não faz parte do CD mas já ficou e depois tal como as músicas foram surgindo foram surgindo os músicos. Então o projeto nasceu assim muito lentamente, muito respirado e foram surgindo as ideias com as músicas já. Fomos 18 músicos em estúdio, há pessoas que participam numa música só, a bateria toca em 8 músicas. Com mais ou menos presença em cada uma das músicas essas pessoas foram surgindo porque as músicas pediam isso mesmo. E a banda de base do projeto, esses 5 músicos do núcleo foram dizendo “ tem que se perder mais tempo com isto agora” … aquilo começou a fervilhar e pronto, fizemos o disco e convidamos essa gente toda. Depois a ilustração, Web Design, videoclip, gráfica e não conseguimos parar. Depois partimos para o concerto e pronto, estamos aqui agora. Foi surgindo assim, naturalmente, e não conseguimos parar. É uma coisa muito natural, não é forçada. Ou seja, as músicas foram gravadas assim porque era isso que pediam, nem tem mais nem menos do que aquilo que a gente achava. As coisas foram pensadas: esta música já está bem assim, não é preciso mais nada. Não vamos encher. Foi um processo lento no sentido de ouvir as coisas, estivemos 3 meses e meio em estúdio (não todos os dias obviamente, mas do primeiro ao último dia), fomos respirando, ouvindo em casa, não havia pressões de editoras, não havia prazos, era eu que estava a decidir isso porque estava a investir no projeto, por isso, fomos fazendo as coisas assim…

In Guimarães: Foi um crescimento saudável?

João de Guimarães: É, exactamente, foi um crescimento saudável.

In Guimarães: Quantos elementos fazem parte do projeto?

João de Guimarães: Músicos somos 6 de base. Tínhamos mais 2 convidados no sábado passado (28 de Março – espetáculo de estreia), 2 pessoas a fazer performance, 5 técnicos e a versão base é essa. Sendo que de toda essa equipa de pessoas fomos desenvolvendo ao longo dos meses a parte dramatúrgica do projeto e mais precisamente do espetáculo. Como é que íamos criar o espetáculo, passar da música para o placo. Temos três músicas novas que já tocamos no sábado e mais duas feitas que não foram apresentadas ainda. Por isso foi um processo que demorou muitas tardes e muitas noites, muitas noites sem dormir às vezes. É uma coisa que demora tempo, preparar todo um espetáculo, com cenografia, iluminação, desenho de som… o mais pequeno pormenor demora muito tempo. Mas dá um gozo redobrado.

In Guimarães: São 10 as músicas que compõem o álbum Velvet Blue. Foi o João que escreveu todas as músicas. Quanto tempo dedicou às letras?

João de Guimarães: Deste disco a primeira foi em 2012 e há uma que é Picture Of Mine que foi rebuscada de 2007 salvo o erro, que depois foi refeita. Eu já estava com algumas músicas feitas, já ia para aí na quinta ou sexta música e lembrei-me de uma pequena passagem dessa música e peguei nela e acabamos por refazê-la e faz todo o sentido estar ali naquele disco. Foi a única que foi rebuscada e transformada para o John and the Charmers. De resto as outras nove foram feitas desde 1 de Outubro até Agosto de 2013.

In Guimarães: Desde que idade o João escreve músicas?

João de Guimarães: No sábado estive com um amigo que lá foi (ao espetáculo de estreia). Nós tivemos uma banda no tempo de liceu, aliás, era 6 ano talvez, na altura aos 11, 12 anos. Começamos a escrever numa vertente assim mais pop rock e quando o vi no sábado lembrei-me disso. Há uns tempos, para aí há um ano atrás comentamos isso, tentar rebuscar essas coisas que escrevemos, porque é uma fase engraçada, de tentar descobrir como se faz uma canção. Tenho ideia de alguns refrões, algumas coisas que fiz na altura, e por acaso lançamos o desafio entre nós os dois de tentar gravar isso para a gente não esquecer e até encontrar letras escritas desse tempo. Por isso, assim desse formato mais canção foi pelos 11/ 12 anos. Mas não é a minha grande facilidade, escrever uma música logo e está feito. Eu não tenho essa facilidade e essa capacidade de compositor de canções, não escrevo uma música em 5 minutos ou 10. O meu forte não é esse, mas é uma coisa que se vai trabalhando não é? Mas depende muito da inspiração.

In Guimarães: Como é que foi escrever estas 10 letras para o álbum? Em que é que se baseou? Experiências pessoais?

João de Guimarães: Sim. Há um facto curioso que é ao mesmo tempo que escrevi a letra No Time escrevi The Sweetness Of Your Heart. No Time é mais mexida e The Sweetness Of Your Heart é uma com vibração de voz e com uns apontamentos de violoncelo e saxofone que é atmosférico e leve. Portanto, havia assim uma data de coisas na minha vida que me levaram a escrever estas músicas e foi decidido naturalmente. Não tem aquela coisa do gostava de escrever agora sobre isto ou gostava de compor uma música mais assim. Não, às vezes era uma frase, uma melodia, um ritmo, e então a partir dali ia escrevendo um bocadinho. Às vezes saia o refrão, outras vezes uma melodia que não tinha letra ainda e eu gravava ou tocava no piano para não me esquecer. Foi fazendo assim, no meio das outras coisas todas, no meio das aulas… Eu tenho uma música que é o Midnight Blue, que é uma balada, que é a música preferida do disco, eu estava a dar aulas em Felgueiras, numa turma de Ensino Superior, com pessoas já com maturidade e algumas até mais velhas do que eu, e esse ambiente super descontraído levou-me a enquanto eles estavam a trabalhar… ia saindo uma melodia ou outra ou uma frase ou outra. Portanto, o Midnight Blue saiu numa quarta feira à noite em Felgueiras enquanto estava a dar aulas. Surgiam assim nos momentos mais estranhos e menos prováveis. Às vezes, acordava e escrevia logo para não me esquecer, era assim bocadinhos aqui e ali que depois eram trabalhados. Há umas que escrevi rapidamente e outras que demoraram meses. Tenho uma que estou há um ano a escrever e ainda não acabei. Mas também não estou preocupado nem quero forçar aquilo. Para já temos o refrão e está tão bom que é o que eu digo, se calhar tocamos só aquilo e chega (ri). Não há nenhuma forma sagrada, parte de momentos de inspiração. Mas sim, partiu sempre de momentos, de pequenas coisas que me podem ter acontecido naquele dia, não quer dizer que aconteceu textualmente o que tem na letra, mas partiu de experiências que vivi nessa fase da minha vida.

In Guimarães: Porquê em Inglês?

João de Guimarães: Porque em mandarim não ficava bem (ri). Não, eu numa parte mais poética escrevo mais em português, 80/20 por cento das coisas que escrevo em poesia são em português. Não sou poeta, não é a minha profissão, mas gosto de escrever. No entanto, em canções, a nível de músicas, é ao contrário, será 80 por cento em inglês e 20 por cento em português. Quando é prosa ou verso escrevo mais em português e quando é para música escrevo mais em inglês. Não é porque acho que vai vender mais ou menos. Nada neste projeto é pensado nesse sentido porque se não fazíamos uma coisa foleiríssima e numa semana ou duas e não dois anos e meio. E não gastava tanto tempo, dinheiro e energia e reunia uma equipa tão espetacular. Se conseguirmos espalhar pelo mundo melhor, se não conseguirmos não vamos obrigar ninguém a escutar. Por isso o inglês surgiu naturalmente. Nós na minha casa temos o hábito, por brincadeira, de falar inglês e fui sempre ouvindo muita música em inglês, por isso surgiu assim naturalmente. 



Conheça mais desta aventura musical amanhã, com a segunda parte desta entrevista! Aqui fica um cheirinho do que pode ler: "O que significa a música para mim é isso mesmo. A forma como eu vivo, como eu respiro… é a minha vida, o que eu gosto de fazer, aquilo que eu faço melhor, seja bom ou não é o que eu sei fazer melhor. Já faz parte de mim desde tão cedo que eu já não imagino não ter o piano em casa para tocar, não ter não sei quantas guitarras diferentes, afinações diferentes, brinquedinhos que fazem som e pegar em facas e fazer percussões… sei lá, estou habituado lá em casa a estragar as cadeiras desde pequenino porque eu tocava com facas. Por isso, fez sempre parte de mim." João de Guimarães

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